IPMA diz que fevereiro foi o mais seco de sempre e pode não chover até outubro
O presidente do IPMA, Jorge Miguel Miranda, afirmou, este sábado, que o mês de fevereiro de 2023 "foi o mais seco de sempre" e manifestou preocupação face às previsões que demonstram que os próximos meses, até outubro, poderão ser marcados pela ausência quase total de precipitação em Portugal.
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Jorge Miranda falava no IV Congresso Transfronteiriço de Meteorologia e Alterações Climáticas, em Arcos de Valdevez, onde participou como orador num painel sobre "Responsabilidade cívica e influência nas decisões políticas". Em declarações ao JN, recusou classificar o cenário como "catastrófico", mas apelou à mudança do "comportamento individual" dos cidadãos como forma de ajudar as entidades públicas a combater os efeitos, por vezes "extremos", das alterações climáticas.
"Estamos preocupados, porque tivemos o fevereiro mais seco de sempre. Abril teve três ondas de calor, sem água praticamente nenhuma, e temos, agora, um maio com muito pouca precipitação. A chuva que caiu aqui [no Alto Minho] durante a última noite não é uma situação que tenha acontecido no território todo", declarou o presidente do Instituto Português do Mar e da Atmosfera, que deverá retirar-se após cumprir 70 anos no fim de maio.
No congresso levou a sua preocupação à audiência: "Tivemos chuva aqui durante a última noite e podemos ter mais uma chuvita agora, mas, depois, podemos não ter nada até outubro". Ao JN, reafirmou essa mesma possibilidade: "Deus queira que não, mas é que é só mesmo Deus".
"O cenário não é catastrófico, mas prognosticam-se anos que podem ter estios muito prolongados. Não podemos repousar a nossa ação sobre sistemas de proibição centralizados. Isso significaria que a economia parava. Portanto, vamos ter que articular decisões centrais de proibição, com uma atividade muito mais proativa das pessoas, no sentido de evitar comportamentos de risco", declarou, dando, como exemplo, a ação que as pessoas podem ter na prevenção de incêndios no Minho, onde "não há razão lógica que leve a que seja das zonas do país com mais ignições. É uma zona húmida, tem água suficiente".
Sucessão de fenómenos extremos
Enquanto orador, Jorge Miranda deixou claro que, este ano, vai ser um misto de emergência e de adaptação. "Emergência nos intervalos mais curtos possíveis para não bloquear a economia e adaptação mais fortemente apoiada pelas pessoas, compreendendo o que estão a fazer".
"Cada um de nós tem de ser, não um bombeiro como se dizia há dois anos, mas ser um não incendiário", acrescentou, naquele que considerou ser "o seu último ato oficial" no continente [terá, ainda, um evento público nos Açores] como presidente do IPMA. Considerou, de resto, que as autarquias, a Administração Central e, principalmente, a Proteção Civil já "não são suficientes" a nível da ação, perante o cada vez maior e variado número de ocorrências.
"Desde 2017 até agora, tem sido uma sucessão, cada vez mais forte, de fenómenos extremos", descreveu, recordando "os fogos de junho e de outubro 2017", o furacão Lourenço que, "quando passou pelos Açores, não se desviou das ilhas, pela primeira vez, e destruiu completamente os portos das Flores e do Faial. Tivemos três anos de seca e tivemos as [recentes] cheias de dezembro e de janeiro. Passamos para uma situação em que todos os meses são difíceis", advertiu o especialista, considerando que "estão-se a tomar medidas, mas elas são muito insuficientes. A Proteção Civil é insuficiente", apesar da sua profunda ligação às comunidades locais e de ter progredido, "estratosfericamente, nos últimos dez anos".
Aos alunos das escolas de Arcos de Valdevez, presentes no Congresso Transfronteiriço de Meteorologia e Alterações Climáticas, apelou a que se tornem "os principais soldados" que combatem as alterações climáticas. O congresso foi organizado pelo Cenfipe - Centro de Formação e Inovação dos Profissionais de educação das escolas do Alto Lima e Paredes de Coura, pela Câmara de Arcos de Valdevez e pelos agrupamentos de Escolas de Valdevez e de Freixo.