Levantamento de restrições só com mortalidade abaixo dos 20 óbitos por um milhão de habitantes e ocupação de Cuidados Intensivos abaixo das 170 camas. Indicador inverteu e está agora nos 29,7 óbitos/milhão.
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O Governo não vai mexer nos dois critérios recomendados pelos peritos para levantamento das restrições: menos de 20 óbitos em 14 dias por um milhão de habitantes e menos de 170 camas ocupadas por doentes covid em Cuidados Intensivos. Com o primeiro indicador a reverter e a subir agora para os 29,7 óbitos/milhão, como o JN noticia na edição desta sexta-feira, fica assim adiado o fim das restrições, concretamente o uso de máscaras em espaços interiores, inicialmente projetado para o início deste mês.
A informação foi confirmada ao JN pelo Ministério da Saúde. Explicando o gabinete de Marta Temido que, "de acordo com as recomendações dos peritos, e consideradas pelo Governo, o levantamento das restrições deverá obedecer ao seguinte referencial: o país registar menos de 20 mortes por milhão de habitantes em 14 dias - o mesmo valor definido pelo ECDC (Centro Europeu para a Prevenção e Controlo das Doenças) - e menos de 170 camas em unidades de cuidados intensivos ocupadas por doentes infetados com o SARS-CoV-2". Acresce, recordam, que o país continua em situação de alerta até 18 de abril, mantendo-se as regras atualmente em vigor.
A Direção-Geral da Saúde, refira-se, apontava atingir-se aquele patamar a 3 de abril. Sublinhando, no entanto, Graça Freitas tratar-se de uma projeção. Que não será agora alcançada devido à subida de novos casos por altura do Carnaval e ao seu impacto, diferido no tempo, na mortalidade.
Mortalidade a subir
No que à ocupação de Intensivos concerne, os dados apontam para uma estabilização, longe do limite definido, com uma ocupação na casa das 60 camas. O mesmo já não se verifica na mortalidade, com uma inversão da tendência. Depois de ter baixado, em meados de março, para os 25 óbitos por um milhão de habitantes, aquele indicador subiu agora para os 29,7/milhão (dados a 29 de março), de acordo com os cálculos do matemático Carlos Antunes, que modela a pandemia desde o início. Com tendência, ainda, ligeiramente crescente, numa subida média de 1,3% ao dia.
Um aumento que se explica pela subida da incidência nas faixas etárias superiores, com a mortalidade a impactar, sobretudo, nos mais de 80 anos. Para pôr o indicador no limiar necessário à libertação total da sociedade será necessário, segundo o professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, "o número médio de casos dos 80+ passar dos atuais 640 casos/dia para baixo dos 450 casos/dia". Sendo que, atualmente, já não está a subir.
Situação "controlada"
Contudo, os peritos ouvidos pelo JN sublinham que, analisando todos os outros indicadores, nomeadamente de ocupação hospitalar, a situação está controlada. "Os valores que foram fixados no passado estão desfasados da realidade atual, em que há uma circulação muito maior, mas a gravidade é muito menor", diz Óscar Felgueiras. "A situação está bastante controlada. Creio que não se deve pôr demasiado peso neste indicador [óbitos] quando tudo o resto está controlado", explica o matemático que assessora o Executivo no combate à pandemia.
Por outro lado, recorda o epidemiologista Manuel Carmo Gomes, quando Portugal entrou no nível 1, a 17 de fevereiro, tínhamos "um nível muito alto - 61,1 óbitos por um milhão". Não "atingimos" a meta, "mas não estamos muito longe dela", diz.
Recorde-se que, de acordo com a recomendação da equipa liderada pela pneumologista Raquel Duarte, no nível 0 preconiza-se apenas a promoção de máscara perante sintomas respiratórios ou perceção de risco. Atualmente, o uso de máscara nos espaços interiores continua a ser obrigatório, bem como a apresentação de teste negativo, exceto para portadores de certificado de recuperação ou de vacinação completa com dose de reforço, para visitas a lares ou a pacientes internados em estabelecimentos de saúde.

