É uma escalada "sem precedentes". Na última semana, o número de infeções por SARS-CoV-2 na faixa etária dos 0-11 anos mais do que triplicou.
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Neste ano, contabilizam-se já mais de 70 mil casos naquele grupo, o equivalente ao registado nos últimos cinco meses e meio do ano passado, segundo o matemático Carlos Antunes. Uma subida que, para o pneumologista Filipe Froes, poderia ter sido atenuada com a antecipação da vacinação das crianças e o encurtamento do intervalo entre tomas.
De acordo com os dados facultados ao JN por Carlos Antunes, a 10 de janeiro contavam-se 2980 novos casos nos 0-11 anos, quando a 17 de janeiro registavam-se 9293 novas infeções. Período que coincide com o regresso às escolas e com a alteração das regras de isolamento, recorda. Com particularidades etárias: a subida de 212% nos 0-11 anos contrasta com a de 68% verificada nos 12-17.
"Parede" nos 0-9 anos
Já nos mais pequenos (0-9) assistimos a uma subida exponencial. Só na passada terça-feira, quando Portugal atingiu o máximo histórico de 52 549 casos num só dia, naquela faixa etária contavam-se 9210 novas infeções. "Desde o dia 9/10, temos uma parede abrupta neste grupo etário [mais 241%]", explica o professor da Faculdade de Ciências de Lisboa.
Para se ter a noção, desmonta o matemático Óscar Felgueiras, "o número máximo nos 0-9 anos, numa média a sete dias, tinha sido atingido na semana de 27 de janeiro de 2021, com 655 casos por 100 mil habitantes. Foi superado pela primeira vez a 29 de dezembro. Neste momento, até terça-feira, estava nos 4093 casos a sete dias por 100 mil habitantes". Para o professor da Universidade do Porto, "o crescimento nas crianças é algo sem precedentes".
Com impactos, avisam aqueles matemáticos, nas faixas etárias dos pais, "com uma inversão de tendência nos 30-49", diz Óscar Felgueiras. De acordo com as contas de Carlos Antunes, "na última semana, há um aumento de 20% no grupo 30-49 anos".
Até onde podemos chegar, o professor da Universidade de Lisboa não arrisca: "Há uma pressão muito forte, com tendência a aumentar, não sabemos qual é o limite". Estimando que até ao final deste mês Portugal atinja os "1,1 milhões de infetados com ómicron".
Críticas à vacinação
"Assistimos, com a abertura das escolas, a um aumento exponencial de casos, confirmando que esta variante é altamente transmissível e provando que a transmissibilidade também ocorre nas crianças", vinca o coordenador do gabinete de crise da Ordem dos Médicos (OM). Que põe a tónica na pro-atividade. "Devíamos ter antecipado a vacinação - antes da abertura das escolas, não no fim de semana anterior - e devíamos ter reduzido o intervalo entre tomas para 3/4 semanas", afirma Filipe Froes.
Para o pneumologista, é evidente que "temos que proteger mais, quando há mais necessidade de proteção". Posição já defendida pela OM numa carta aberta em conjunto com o Instituto Superior Técnico e noticiada pelo JN.
Por outro lado, Filipe Froes critica o processo de vacinação em si, na medida em que quem não vacinou os filhos entre os dias 6 e 9 de janeiro - porque estavam em isolamento, por exemplo - só o poderá fazer no primeiro e último fins de semana de fevereiro. "Devemos ter capacidade de manter o autoagendamento para este grupo etário em determinados centros de vacinação. Com autoagendamento, juntam as pessoas e marcam, não tem nada especial. Para vacinar em tempo oportuno e sem interrupção", conclui.