As infeções abaixo dos dez anos mais do que duplicam face à semana passada. Os pediatras ouvidos pelo JN pedem mais vacinação.
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O contágio por SARS-CoV-2 está a crescer nas crianças abaixo dos dez anos e constitui a maior subida entre todas as faixas etárias: foi um aumento de 117% da incidência entre os menores dos 0 aos 9 anos, de acordo com o relatório das "linhas vermelhas" da Direção-Geral da Saúde (DGS) e do Instituto Nacional Dr. Ricardo Jorge.
A evolução crescente já justificou a abertura de mais uma ala pediátrica para doentes com covid-19 no Centro Materno-Infantil do Norte (CMIN), que passou de cinco para nove camas.
"Tivemos que abrir no domingo passado, porque a necessidade de internamento já não era compatível com o espaço que tínhamos até então", explicou ao JN, o diretor do CMIN, Caldas Afonso.
Este sábado, seis estavam ocupadas com crianças maioritariamente abaixo dos três anos. Mas o internamento é volátil e atinge também crianças que estão elegíveis para a vacinação (a partir dos 5 anos). E "todas as que foram internadas não tinham vacina", refere o médico.
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Apesar da necessidade de alargar o serviço, a maioria das crianças a testar positivo à SARS-CoV-2 não "justifica internamento". No entanto, com a incidência a aumentar na faixa etária, há "obviamente" menores com a doença a necessitar de cuidados hospitalares, explica Caldas Afonso. Depois, há aqueles com outras patologias e que testam também positivo, sendo remetidos para o "espaço covid" do CMIN.
A DGS precisou ao JN que 185 347 crianças entre os 5 e os 9 anos tinham pelo menos uma dose da vacina contra a covid-19. De acordo com a Pordata, em 2020 havia 450 275 crianças naquela faixa etária a residir em Portugal, o que significa que apenas 41% está imunizada.
O pediatra diz que os números mostram, ainda, a hesitação dos progenitores, perante a confusão que se gerou acerca da vacinação dos mais novos. "Os pais ficaram com dúvidas e perplexos, mas sempre que falávamos, tranquilamente se resolvia", explica.
Já Ana Jorge, também pediatra, diz ser necessário voltar a reforçar a "tranquilidade" aos pais. "Estava previsto serem vacinadas muitas crianças ao fim de semana e o número de crianças que apareceu foi inferior ao que era esperado. Tem a ver com o receio e com toda a perturbação da informação que foi feita", recorda, referindo-se aos fins de semana dedicados à vacinação dos mais pequenos.
Mais de 10 mil infetados num dia
O boletim diário deste sábado da autoridade de saúde mostra que mais 10 053 menores até aos 9 anos testaram positivo à covid-19 em 24 horas. Já a incidência cumulativa a 14 dias passou de 3 125, na semana passada, para 6 777 abaixo dos 10 anos esta semana, segundo o relatório das "linhas vermelhas".
No que toca aos números gerais, este sábado foi o quarto dia consecutivo acima dos 50 mil novos casos diários (58 131) e foram registadas mais 43 mortes.
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Para Ana Jorge seria importante perceber se o "número de crianças que testaram positivo estavam vacinadas ou não". "Para saber se a primeira dose nas crianças tem uma grande capacidade de produzir anticorpos", explica.
O calendário do Ministério da Saúde aponta para que, entre 5 de fevereiro e 13 de março, sejam administradas as segundas doses. Caldas Afonso diz que "foi uma pena" não se ter aproveitado as férias de Natal para vacinar mais crianças. "Metade não tem vacina e os outros têm uma proteção parcial. Os números [de infeções] não são de admirar", conclui.