Os centros de orientação de doentes urgentes (CODU) do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) recebem, por ano, cerca de 20 mil chamadas falsas que originam o acionamento de perto de 7500 meios.
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Ambulâncias, viaturas médicas, motos e até helicópteros são frequentemente mobilizados para ocorrências que não existem e deixam, assim, de estar disponíveis para o socorro. As chamadas falsas, bem como as "falsas emergências", continuam a ser uma "preocupação". Até porque a atividade do INEM não pára de aumentar: em 2018, deu resposta a mais 50 mil emergências do que no ano anterior.
O último caso com relevância ocorreu na noite de Natal. Uma chamada para o 112 dava conta de um "gravíssimo" acidente de viação, com feridos graves e encarcerados, na Póvoa de Lanhoso. O INEM acionou bombeiros e meios próprios, além de duas viaturas médicas de emergência e reanimação. No total, foram mobilizados 36 operacionais (incluindo autoridades) que só perceberam que se tratava de um falso alerta quando chegaram ao local. Cerca de um mês depois, a GNR identificou o presumível autor da chamada, um jovem de 21 anos, que incorre num crime punível com prisão até um ano ou 120 dias de multa.
54 chamadas falsas por dia
Outro caso que ficou na memória de António Táboas, médico do INEM, e que valeu três meses de prisão efetiva ao autor da chamada, remonta a 2012. O CODU recebeu o alerta de um homem para um acidente de viação de uma carrinha com vários trabalhadores na A24. O interlocutor seria o único sobrevivente e estava encarcerado. Foram mobilizados bombeiros e ambulâncias de cinco corporações, GNR e um helicóptero. O autor do telefonema acabaria por ser desmascarado por um familiar. Fez a chamada para chamar a atenção da mulher, de quem se estava a divorciar.
"Temos adultos com psicopatologia, chamadas de atenção, brincadeiras de crianças muito típicas no primeiro dia de férias", detalha António Táboas, médico do CODU Norte. O 112 faz uma primeira triagem, desconfia quando o telefonema é feito de um telemóvel sem cartão (só aparece o IMEI) ou quando o ruído de fundo são risos de crianças. Ainda assim, a Polícia transfere uma média de 54 chamadas falsas por dia para as centrais do INEM. Os operacionais têm alguns truques para apanhar os prevaricadores, mas na dúvida acabam por acionar os meios. "É a história do Pedro e do lobo", diz António Táboas, referindo o conto infantil para realçar o risco de não acionar meios e estes serem necessários.
1,31 milhões de ocorrências
Também as "falsas emergências" - situações que não configuram emergências médicas - são uma "preocupação", porque sobrecarregam as centrais telefónicas. Em 2018, o INEM recebeu 68 163 chamadas, uma média de 186 por dia, que não constituíam verdadeiras emergências e acabaram por ser transferidas para o SNS 24. "Temos muitas situações de febre nas crianças e casos de dores nas costas, o que por si só não são emergências", nota António Táboas. Ainda assim, os portugueses estão hoje mais bem informados sobre os serviços de que dispõem e essa é também uma das razões para o aumento da atividade.
Em 2018, o INEM deu resposta a 1,31 milhões de ocorrências, mais 49 678 do que em 2017. Com exceção dos anos da crise, em que houve uma quebra, a atividade do INEM aumentou sempre. "A população está mais envelhecida e mais sensibilizada para pedir ajuda precocemente. E ainda temos mais acidentes de viação e de trabalho", sintetiza o médico.