
Gustavo Bom / Global Imagens
Falta de operadores no INEM fez disparar os tempos médios de atendimento em junho. O Instituto diz que são situações "absolutamente pontuais".
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Em junho, os tempos médios de atendimento das chamadas no Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) dispararam. Em determinados dias, houve períodos em que os operadores levaram, em média, seis e oito minutos a atender os telefones, quando o recomendado são sete segundos. No mesmo mês, perderam-se quase dez mil chamadas e só metade foram recuperadas.
Dados internos do INEM obtidos pelo JN revelam muitos problemas nos centros de Orientação de Doentes Urgentes (CODU). Desde logo, graves carências de recursos humanos. Praticamente todos os dias há menos técnicos de emergência pré-hospitalar (TEPH) ao serviço do que os escalados.
"Picos de serviço", diz INEM
Segundo a informação a que o JN teve acesso, no dia 21 de junho, sexta-feira a seguir ao feriado de Corpo de Deus, entre as 10.30 e as 11 horas, os operadores demoraram em média seis minutos a atender as chamadas transferidas pela central 112. No dia 24, feriado de S. João no Porto, entre as 10 e as 10.30 horas, o tempo médio de atendimento pelo INEM atingiu os oito minutos.
Em resposta ao JN, o INEM esclarece que se trata de "picos de serviço", "situações absolutamente pontuais que representam exceções àquela que é a atuação dos CODU".
Contudo, ao longo do mês, há vários exemplos a apontar muitas dificuldades. No dia 2, os três CODU (Porto, Coimbra e Lisboa) atenderam um total de 3465 chamadas, com um tempo médio de atendimento de 217 segundos (3,6 minutos).
Só 25% foram recuperadas
Como pode ver-se na infografia acima, foi o dia em que estiveram menos TEPH ao serviço (64 quando a média do mês são 70). No mesmo dia 2, um total de 1716 chamadas foram desligadas na origem e o sistema de "call-back" (chamada de volta) apenas recuperou 28% dos contactos. No dia seguinte, perderam-se 1124 chamadas e foram recuperadas 25%.
Nem todas as chamadas desligadas na origem são emergências que ficam sem resposta. O INEM explica que algumas são para perguntar se a ambulância demora, outras são desligadas porque o interlocutor percebe que alguém já ligou para o INEM e há também utilizações abusivas.
Entre 1 e 24 de junho, das 89 215 chamadas atendidas, 9805 foram desligadas antes do operador atender e apenas 49% foram recuperadas. Sobre as restantes 51% ninguém sabe a finalidade que tinham.
Com um défice de mais de 400 TEPH, a manta não estica. Faltam profissionais nos CODU e nas ambulâncias. Em resultado, sobem os tempos de atendimento das chamadas, perdem-se milhares pelo meio, e cresce a inoperacionalidade dos meios.
Os números não surpreendem o vice-presidente do Sindicato dos Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar (STEPH). E julho e agosto "vai ser pior, quer a nível de meios quer a nível do CODU", prevê Rui Lázaro.
Julho e Agosto pode piorar
O INEM garante que nos CODU "as escalas estarão tão completas quanto possível" e lembra a recente autorização do Governo que permite aos trabalhadores realizarem trabalho suplementar até 80% da sua remuneração-base.
Rui Lázaro não está tão otimista. As escalas deste mês já indiciam problemas. O CODU Norte tem, em média, 15 operadores previstos por turno, quando o mínimo são 19, diz o dirigente do STEPH. Daqueles, resta saber quantos efetivamente vão estar presentes porque há sempre faltas imprevisíveis e "mudanças de última hora para abrir meios que estão inoperacionais". Refira-se que os TEPH tanto podem trabalhar nos CODU como tripular meios do INEM.
Nas ambulâncias, as escalas de julho também estão desfalcadas. A ambulância Porto 1 (na Rua de Faria Guimarães) "já fechou o turno da noite" e dos 62 previstos, tem 12 assegurados.
Para Rui Lázaro, além da escassez de TEPH, há uma insatisfação crescente nos profissionais com um recente esquema de horários, que está a aumentar a indisponibilidade dos técnicos para realizarem horas extraordinárias.
Perguntas e respostas
Qual é o défice de técnicos de emergência pré-hospitalar (TEPH) no INEM?
A 31 de maio, faltavam 403 TEPH no mapa de pessoal do INEM. E as entradas, nos últimos anos, quase não cobrem as saídas. Segundo números do INEM, entre 2017 e 30 de abril de 2019, entraram 125 TEPH no instituto e saíram por mobilidade ou renúncia do contrato 108 técnicos.
A autorização dada há dias pelo Governo para contratar 150 TEPH vai resolver as carências?
Não. O número fica muito aquém das necessidades do instituto e dos pedidos de autorização feitos pelo INEM em 2018 e 2019 (300 nos dois anos). Não chega para colmatar as carências, assim como impede a expansão da rede de ambulâncias do INEM.
Quanto tempo demora a integração dos novos profissionais?
Há 20 TEPH (recrutados da bolsa do último concurso) que assinam contrato este mês e poderão começar a trabalhar nos CODU em setembro. Os outros 130 só entram ao serviço após o concurso e seis meses de formação, o que pode levar cerca de um ano e meio.
