António Costa rejeitou a possibilidade de José Artur Neves sair da Secretaria de Estado a dois meses das eleições, apesar de no PS haver quem questione a ineficácia para travar a avalanche de polémicas que envolvem o governante e o seu gabinete.
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O primeiro-ministro, que se mantém no Algarve de férias, recusou aceitar a disponibilidade que Artur Neves terá mostrado para sair, desde segunda-feira à noite, apurou o JN - junto de fontes próximas deste processo -, porque numa situação idêntica em relação a incompatibilidades poderão estar outros membros do Governo.
Desde sábado, quando Cabrita ordenou um inquérito ao processo de compra das golas e kits, que Costa está a gerir à distância o processo. Ao JN, um dirigente socialista assegurou que Artur Neves "não é para cair, até porque entrou no Governo sob indicação de Pedro Nuno Santos [ministro das Infraestruturas], e num momento destes não se podia fragilizar uma área tão importante".
"Mas isto tudo podia ter sido resolvido logo na sexta-feira", criticou um deputado do PS, que não dá por "líquido que Costa não o deixe cair". "O problema é estarmos a um mês da campanha eleitoral", apontou.
Já em relação ao adjunto Francisco Ferreira, que se demitiu na segunda-feira, "mostrou uma enorme inexperiência ao admitir que tinha indicado as empresas" consultadas na compra das golas e kits, defendeu ainda um outro parlamentar, que garante que "a expectativa dentro do partido é que o caso acalme até quinta-feira".
O JN sabe que Neves mostrou disponibilidade para sair "quando foram recebidas no gabinete as questões do 'Observador' sobre a empresa do filho", que tem negócios com o Estado, apesar de a lei o impedir. "Ele [secretário de Estado] criou anticorpos dentro da Proteção Civil. Já sabemos de onde tudo isto vem", disse aquele mesmo parlamentar.
PGR chamada a intervir
Artur Neves negou, na terça-feira, conhecer as relações do filho com entidades do Estado: "Não tive qualquer influência nem estabeleci qualquer contacto, nem o meu filho alguma vez invocou o seu grau de parentesco". Costa amparou tal tese e pediu um parecer "sobre os impedimentos" dos familiares de governantes a ter negócios com o Estado, ao Conselho Consultivo da Procuradoria-Geral da República. "Não pode deixar de suscitar dúvidas como alguém possa ser responsabilizado" por entidades "sobre as quais não detém qualquer responsabilidade", sublinhou o gabinete do primeiro-ministro. O JN apurou, junto de fonte governamental, que chegaram ao Executivo várias questões sobre outros governantes na mesma situação.