
Pedro Nuno Santos
MANUEL DE ALMEIDA/LUSA
O ministro das Infraestruturas e Planeamento sentiu-se na obrigação de vir a terreiro explicar a entrada da mulher no Governo, após a polémica que criou a publicação da nomeação em "Diário da República", na sexta-feira.
Pedro Nuno Santos defendeu que Catarina Gamboa, que se tornou chefe de gabinete de Duarte Cordeiro, secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, "não merece ser menorizada no seu percurso profissional" por ser casada consigo.
Este é mais um caso que começa a tornar difícil conseguir juntar numa só imagem todos os membros do Governo com relações familiares ou de amizade profunda, revelados nos últimos três anos e meio. A Transparência e Integridade (TI-PT) alerta para "os sinais preocupantes destes exemplos" e o risco de "as decisões serem tomadas em círculos informais, sem documentação que permita fiscalizar as políticas públicas, e a desilusão dos cidadãos para com a política".
PS a dominar a máquina
"O argumento, recorrente, de que as pessoas não podem ser prejudicadas por serem familiares de alguém, é muito pobre, porque prejudicadas ficam as instituições", disse, ao JN, João Paulo Batalha, presidente da Transparência e Integridade, associação responsável pela medição do índice de corrupção nacional.
Refere Batalha que esta "é uma lição muito útil sobre os recrutamentos nos partidos, que tomam conta da máquina do Estado". "Qualquer mudança no Governo, em vez de um novo fôlego, agudiza um ciclo de poder muito endogâmico", sublinhou, garantindo conhecer apenas exemplos semelhantes no Azerbeijão ou Guiné-Equatorial.
Numa extensa explicação no Facebook, em que cinco dos seis parágrafos são uma enorme declaração de amor e um elogio às capacidades profissionais de Catarina Gamboa, Pedro Nuno Santos escreveu que "ninguém deve ser prejudicado na sua vida profissional por causa do marido, da mulher, da mãe ou do pai".
No post que colocou pela meia-noite de domingo e que justificou com a "necessidade de transparência" e porque o "povo tem o direito de questionar e de querer garantir que os cargos de poder político não são usados para que alguns se sirvam a si e às suas famílias", o ministro alude à relação antiga com Duarte Cordeiro, através do qual conheceu a mulher.
A entrada de Catarina Gamboa junta-se à teia de cerca de uma dezena de casos semelhantes [ver imagem em cima], que liga outros governantes e nomeados em relações familiares e de amizade. Na última remodelação, há cerca de um mês, Mariana Vieira da Silva, ministra da Presidência e filha do ministro da Segurança Social, tornou-se a situação mais paradigmática, à qual o líder do PSD apontou baterias.
"Pela primeira vez na história de Portugal, senta-se marido e mulher e pai e filha no Conselho de Ministros", disse Rio, comparando a situação a uma ceia de Natal. Quando confrontado com esta situação, Marcelo Rebelo de Sousa desvalorizou.
Outros casos
Amigos de Costa
De destacados advogados, Pedro Siza Vieira e Diogo Lacerda Machado viram a sua amizade de longa data com Costa levá-los ao Governo e a administrador da TAP, respetivamente.
Ligações à CML
Os ministros Graça Fonseca e Nelson Souza, a secretária de Estado Ana Pinho e a adjunta na Defesa Maria João Mendes: todos passaram pela Câmara de Lisboa na presidência de Costa.
