A Direcção-Geral da Saúde confirmou a existência de 19 casos de doença dos legionários, detetados no Hospital de São Francisco Xavier em Lisboa, desde o dia 31 de outubro.
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O número foi atualizado este sábado à noite por um boletim epidemiológico da Direção-geral de Saúde, depois de, à tarde, a diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, ter confirmado 18 casos em conferência de imprensa, em Lisboa.
Dos 19 doentes infetados com doença dos legionários, um já teve alta hospitalar, outro está num hospital privado e 17 permanecem internados no Hospital de São Francisco Xavier em Lisboa, três dos quais em unidades de cuidados intensivos.
Doze dos 19 pacientes têm idades entre os 70 e os 89 anos, quatro situam-se entre os 50 e os 69, duas pessoas têm mais de 90 anos e um doente, funcionário do próprio hospital São Francisco Xavier, tem 44 anos.
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Graça Freitas acrescentou que um foco de contaminação da bactéria legionela foi detetado na rede de abastecimento de água do hospital, tendo sido tomadas medidas para eliminar a bactéria - "choque térmico" e "choque químico". A investigação vai continuar para apurar se existem outros focos de contaminação, sublinhou a diretora-geral, admitindo que o número de casos de infeção pode aumentar tendo em conta o período de incubação de dez dias da doença e o facto de as medidas de contenção terem sido tomadas depois de conhecidos os primeiros casos.
No entanto, Graça Freitas deixou uma mensagem de tranquilidade face a este novo foco de legionela, afirmando que "é causada por uma bactéria que é muito frequente na Natureza".
"Este não é um acontecimento extraordinário. Isto passa-se em todo o mundo, e em Portugal habitualmente temos cerca de 200 casos por ano, com pequenos surtos", disse a responsável, garantindo que existem "planos de contingência, internacionais e das instituições" de saúde pública.
A presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar Lisboa Ocidental (CHLO), Rita Pérez, especificou que o São Francisco Xavier faz análises regulares aos pontos críticos para este tipo de bactérias e que as mais recentes, de outubro, deram negativo.
Só nos últimos dois anos, segundo a presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar Lisboa Ocidental (CHLO), Rita Pérez, o São Francisco Xavier teve 27 casos de "legionela", ainda que isolados.
A doença tem sintomas como tosse, calafrios, dificuldades respiratórias, dores musculares, febre alta ou sintomas gastrointestinais como diarreia e vómitos, sendo transmitida pela inalação de aerossóis contaminados com a bactéria e não através da ingestão de água. "A infeção, apesar de poder ser grave, tem tratamento efetivo", segundo a DGS.
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"Na sequência da investigação epidemiológica, de forma a avaliar a situação, recolheram-se amostras em vários pontos dos circuitos de água do Hospital de São Francisco Xavier. Estas amostras foram analisadas no Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge e revelaram a presença de legionela. Pelo princípio da precaução foram tomadas as medidas adequadas para interromper a possível fonte de transmissão", tinha indicado a Direção-Geral da Saúde (DGS) em comunicado ao início da tarde.
No mesmo comunicado, a DGS informou que, "de forma a facilitar a implementação das medidas de controlo, o INEM irá redirecionar temporariamente para outras instituições hospitalares os doentes mais graves que se destinariam ao Serviço de Urgência do Hospital de São Francisco Xavier, que se irá manter aberto para os restantes doentes".
Peritos da Direção-Geral da Saúde, do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, do Departamento de Saúde Pública da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, bem como da Unidade de Saúde Pública do Agrupamento de Centros de Saúde Lisboa Ocidental e Oeiras e em articulação com o Conselho de Administração do Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, "reuniram-se para avaliar a situação e definir a resposta adequada ao controlo do surto", lê-se ainda no texto.
A DGS visa, com esta resposta, assegurar o "diagnóstico e tratamento dos doentes", reforçando a vigilância epidemiológica e ambiental e tomar "as medidas necessárias para interromper a transmissão" da doença.
Em novembro de 2014, o concelho de Vila Franca de Xira foi afetado por um surto de legionela que afetou sobretudo as freguesias de Vialonga, Póvoa de Santa Iria e Forte da Casa, causando 12 mortes e infetando 375 pessoas.
De todos os casos notificados à Direção-Geral da Saúde, o Ministério Público só conseguiu estabelecer o nexo de causalidade em 73 situações, uma vez que nas restantes foi "inviável a recolha de amostras clínicas" ou "não foi identificada estirpe ou a estirpe identificada era distinta da detetada nas amostras ambientais recolhidas".
DGS diz que nada falhou na prevenção
"Não falhou nada. (...) Há um equilíbrio entre o que conseguimos fazer para contrariar a Natureza e a própria Natureza", disse Graça Freitas, acrescentando que "nem sempre as melhores medidas conseguem contrariar esta dinâmica das bactérias".
A presidente do CHLO detalhou que o Hospital São Francisco Xavier "tem um programa de vigilância rigoroso" para controlar bactérias na rede de água", mas que "mesmo assim elas conseguiram encontrar condições para se desenvolver".
"O Hospital tem o seu plano de prevenção para estes eventuais casos. São feitas análises: umas de 15 em 15 dias, outras de mês a mês e outras de três em três meses. Todas elas no mesmo sentido. Nos pontos mais críticos são feitas de 15 em 15 dias, que são as tais torres de refrigeração. (...) Nas análises aos pontos mais críticos, as últimas são de outubro, e deram negativo", disse Rita Pérez.