O presidente da República alertou, este domingo, que, nos próximos dias, se irá atingir "um pico" no risco de incêndios, com um "agravamento" a partir de terça-feira que pode durar entre três e quatro dias. E assegurou que "não há comparação" entre a preparação atual para lidar com o fogo e a de 2017, quando aconteceu a tragédia de Pedrógão Grande.
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"Temos sobretudo, nos próximos dias, um pico. Isto é uma situação muito mais grave do que a que corresponde à situação, já complicada, no período dito de verão", afirmou Marcelo Rebelo de Sousa aos jornalistas, na sede da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, em Carnaxide, Oeiras, depois de participar na reunião do Centro de Coordenação Operacional Nacional (CCON), em que também marcou presença o ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, a secretária de Estado da Proteção Civil, Patrícia Gaspar, e o secretário de Estado da Conservação da Natureza e Florestas, João Paulo Catarino.
Marcelo afirmou que, dentro do pico dos próximos dias, é possível dividir o risco de incêndios "em duas fases": uma entre hoje e segunda-feira, e outra a partir de terça-feira, que poderá durar "um número de dias variável, entre três e quatro". "Quando se fala em hoje e amanhã, estamos numa situação que é grave, que pode dar a situação amanhã, porventura, de um aparente desagravamento, e que pode ser ilusório, no sentido de levar as pessoas a facilitar na sua reação, quando há dados que permitem apontar para um agravamento no dia seguinte", advertiu.
O chefe de Estado referiu que, na fase que irá durar até segunda-feira, "ainda não há os ventos que se teme" virem a existir "com uma intensidade que não tem existido até agora" a partir de terça-feira.
Marcelo referiu ainda que "a mancha abrangida" pelos incêndios neste momento "é uma", na segunda-feira "será mais ou menos a mesma, mas, em princípio, poderá aumentar de forma drástica" a partir de terça-feira, "cobrindo todo o território nacional, menos uma faixazinha no litoral norte".
"Portanto, é isso que leva a dizer que possa haver a partir de dia 12, incluindo dia 12, não só um alargamento da extensão da área de risco, como dos fatores de risco (...) [com] elevadas temperaturas que podem subir então - nomeadamente as máximas - e a humidade baixa que pode agravar-se então, baixando essa humidade, [a] somar-se uma intensidade dos ventos não necessariamente verificáveis hoje e amanhã", sublinhou.
"É preciso neste momento, perante este pico, fazer tudo para que o saldo final, no termo destes dias, desta semana, seja um saldo que seja o mais positivo possível e não o mais negativo possível. É este esforço que temos todos que fazer", apelou.
"Não há comparação" entre preparação atual e de 2017
Questionado sobre se considera que Portugal está mais bem preparado para lidar com os incêndios do que em 2017, quando ocorreu a tragédia de Pedrógão Grande, o chefe de Estado foi categórico: "Isso não tem comparação. Quando eu recordo 2017, recordo a realidade que existia em termos de estruturas de informação que havia - e havias muitas já - mas esta é mais sofisticada: de entidades envolvidas, de coordenação de entidades... Não há comparação."
Marcelo sublinhou que a "informação hoje disponível é muito melhor do que jamais foi, muito melhor em todos os domínios". "Sabemos mais e conhecemos melhor: isto permite prever melhor, planear melhor e prevenir melhor. (...) Hoje é possível acompanhar, mais do que nunca, minuto a minuto, em todo o território nacional e nomeadamente território continental", referiu.
O chefe de Estado considerou que "não há dúvida" que se "aprendeu muita coisa" com os incêndios de 2017, ressalvando, no entanto, que nunca se aprenderá tudo e que é "preciso aprender muito mais nesta realidade".
"Vemos os Estados Unidos da América - grande país - que, mesmo aprendendo tudo, é um drama o que acontece com os fogos florestais todos os anos, e mesmo países europeus, mais variados, a começar no país vizinho, que está sempre a aprender, porque é cada vez mais complicada e imprevisível a situação", indicou.
Questionado também sobre se considera que o país tem condições logísticas e meios operacionais para responder ao risco de incêndios que se avizinha, Marcelo Rebelo de Sousa respondeu: "Nós temos os meios que temos, que é um número de homens superior a 12 mil". "Temos as disponibilidades que temos e, oportunamente, serão dadas informações sobre outras que venham a chegar e a reforçar o que existe. Parece lógica a alocação, isto é a distribuição no terreno, em função do que tem sido a situação atual", sublinhou.
Dentro dessa disponibilidade que existe, segundo Marcelo Rebelo Sousa, "está tudo a ser feito e a utilizar-se tudo, até inclusive preventivamente, com o estado de contingência que foi anunciado e é desencadeado" antes do período principal de risco, em referência ao anúncio do Governo, no sábado, de que irá declarar a situação de contingência entre segunda e sexta-feira.
"Com a colaboração de todos, eu penso que poderemos enfrentar o melhor que sabemos e que podemos as circunstâncias que não controlamos", indicou.
Há hoje uma sofisticação de meios que não havia naquela ocasião
Interrogado sobre se a prevenção aos incêndios não deveria ter sido feita mais cedo, Marcelo Rebelo de Sousa respondeu que "a prevenção existiu", reiterando que a reunião de hoje do CCON "não tem nada a ver" com as que tinha assistido "há seis anos, ou há cinco anos, ou há quatro anos".
"Há hoje uma sofisticação de meios que não havia naquela ocasião. Primeiro, porque se melhorou científica e tecnicamente, e organizativamente. Depois, porque há a conjugação de todas as instituições. Isto é preparar, quer dizer: a prevenção existiu ao montar-se um dispositivo que, como tudo na vida, nada é perfeito, (...) mas que foi corrigindo imperfeições", sublinhou.
O Presidente da República sublinhou assim que, quando fala em prevenção, refere-se à prevenção para o "pico" de risco que irá estar em vigor nos próximos dias, e que "está a ocorrer em circunstâncias que não são aquelas que se verificaram em anos anteriores, ou que se verificaram este ano até agora".
"Para esse pico, tem naturalmente que haver uma prevenção acrescida de todos e uma disponibilidade de informação e de capacidade de resposta aumentada", referiu.