Anteviam ser milhares a participar no cortejo de manifestantes em Castelo Branco e foram, mas os tratores que encerravam a parada foram "travados" pela PSP antes de chegar à sede da Direção Regional de Agriculturas e Pesca do Centro (DRAPC), porque o protesto motorizado não estava autorizado.
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"Os agricultores em Bruxelas podem levar os tratores até ao centro da cidade, mas em Castelo Branco não os deixaram estar aqui. É isto que o Governo nos faz. Os agricultores portugueses não podem fazer o que os outros da Europa fazem, nem para nos manifestarmos", acusou Luís Mira, secretário-geral da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), organizadora destes protestos regionais que vão continuar a percorrer o país até à manifestação final em Lisboa.
Ainda assim, os agricultores e representantes de dezenas de associações de produtores deixaram uma mensagem ao Governo: "Nós não paramos na pandemia, a agricultura não para e também o protesto não vai parar até conseguirmos o que pretendemos", que é "uma gestão eficiente dos fundos comunitários", sublinha Luís Mira.
Recorde-se que os agricultores estão a realizar protestos em todas as regiões do país, contra "o excesso de burocratização, atrasos nos pagamentos dos fundos comunitários, nomeadamente do Programa de Desenvolvimento Rural (no âmbito do Portugal 2020) que deveria estar concluído a 31 de dezembro, mas apenas 77 % do envelope financeiro foi até agora executado; a integração das DRAP nas Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional; e não haver um secretário de Estado da Agricultura".
O presidente da CAP, Eduardo Oliveira e Costa, diz que "não é possível transformar o diretor regional numa espécie de moço de recados para levar os assuntos para Coimbra. O trabalho da agricultura faz-se no campo, por isso os diretores regionais são o rosto da descentralização".
Numa região que diz ter "vários emblemas", este responsável destaca o queijo (Amarelo da Beira Baixa, Serra da Estrela e Rabaçal), o mel, o azeite, o vinho ou a cereja do Fundão que "é uma marca de Portugal". A par disto os apoios necessários não só à dinamização destes setores, mas também à floresta, à agricultura de sequeiro, à construção de novas barragens ou a cobertura total do país com 5G.
O principal alvo dos protestos é a ministra da Agricultura, a quem não reconhecem competência técnica e acusam de prejudicar os agricultores, um prejuízo que Luís Mira garante só será notado em outubro, quando receberem o valor das compensações de Bruxelas, que será inferior ao habitual. "A ministra foi rápida a anunciar em Bruxelas o novo Plano Estratégico da Política Agrícola Comum (PEPAC) 2023 - 2027, mas as regras não são conhecidas". E se as regras do PEPAC não são conhecidas, do quadro de apoio que agora termina ainda há "1300 milhões de euros por pagar e executar", pelo que "não estamos aqui para pedir mais dinheiro ao Governo, mas apenas o que é devido aos agricultores, que merecem respeito".
E anunciou que "Portugal já não tem ministra da Agricultura. Não que se tenha demitido, mas porque ela aceitou perder as florestas, aceitou perder o parque dos animais, aceitou extinguir as direções regionais e aceitou passar de ministra para secretária de Estado. É esta a ministra que temos".
Os representantes de diversas associações de produtores corroboraram as razões do protesto, num momento de intervenções frente à sede da DRAPC, encerrado pelo presidente da CAP.