A terceira edição do Prémio Gulbenkian para a Humanidade reconhece o papel central da ciência no combate à crise ecológica e climática, distinguido duas organizações: a IPBES - Plataforma Intergovernamental Ciência-Política sobre Biodiversidade e Serviços de Ecossistemas e o IPCC - Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas.
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O anúncio foi feito, esta quinta-feira de manhã, pela antiga chanceler alemã Angela Merkel, nova presidente do júri, em conferência de imprensa, na Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), em Lisboa.
Para o júri, a IPBES (criada em 2012 em prol da conservação e o uso da biodiversidade) e o IPCC das Nações Unidas (dedicado, desde 1988, ao fenómeno das alterações climáticas) foram distinguidas pela "produção de conhecimento científico que possibilita os decisores políticos de tomarem medidas mais fundamentadas no combate às alterações climáticas e à perda da biodiversidade".
As duas organizações vencedoras, que, promovem, segundo o júri, uma "relação entre a ciência, clima, biodiversidade e sociedade", foram selecionadas entre as 116 nomeações de 41 nacionalidades dos cinco continentes.
Angela Merkel é, pela primeira vez, a presidente do júri do Prémio Gulbenkian para a Humanidade, sucedendo ao antigo presidente da República Jorge Sampaio (falecido em setembro de 2021), que presidiu ao júri nas primeiras duas edições.
Na sua intervenção, Merkel salientou a importância do contributo de décadas das organizações laureadas, que disse ser necessário para a tomada de decisões que assegurem a sobrevivência da humanidade. "No combate a ambas as crises, as evidências científicas não podem ser retiradas da mesa", defendeu.
De acordo com o júri, a IPBES e o IPCC têm-se "destacado na promoção da relação entre a ciência, clima, biodiversidade e sociedade, representando o melhor que se faz nesta área, em todo o mundo". As organizações vencedoras foram selecionadas de entre 116 nomeações de 41 nacionalidades dos cinco continentes.
Anne Larigauderie, secretária executiva do IPBES, considerou que a atribuição do prémio "reconhece o trabalho de milhares de cientistas e detentores de conhecimento local", uma colaboração que disse ser essencial à criação dos relatórios científicos que notam a perda de biodiversidade. "Nunca na história da humanidade os ecossistemas sofreram tal nível de degradação e estiveram em risco como agora, que sabemos dever-se à ação de todos os humanos", afirmou.
"A janela de oportunidade para a ação está a fechar-se rapidamente", alertou Hoesung Lee, presidente do IPCC. Devido ao avanço rápido das alterações climáticas, "uma ameaça iminente à saúde do planeta e bem-estar humano e de todas as espécies", Hoesung Lee afirmou que a ciência é o instrumento mais importante para as combater. "Os próximos anos serão críticos. Precisamos que mais países contribuam para a decisão climática", apelou.
"Se olharmos com a frequência com que estão a acontecer eventos extremos, é palpável para todos que temos algo à nossa frente. Mas também estamos no meio de uma transição [energética e climática] possível de observar e que demonstra a urgência de agir a todos os níveis", aconselhou Merkel.
Um milhão de euros para relatórios e bolsas de investigação
Os representantes das organizações vencedoras avançaram que o montante do prémio, no valor de um milhão de euros, será usado para dar continuidade à luta pela natureza. Concretamente no planeamento de dois relatórios do IPBES - um de apoio à indústria em geral, com o objetivo de melhorar o seu impacto na biodiversidade, e outro de proteção da água.
Hoesung Lee referiu que esta verba ajudará o programa de bolsas do IPCC, destinado a estudantes de doutoramento de países em desenvolvimento a realizar investigação. Justificando a escolha pela sua importância no "avanço em termos de riscos e estratégias de resposta às alterações climáticas".
O Prémio Gulbenkian para a Humanidade distingue, anualmente, pessoas ou organizações cujas respostas no combate à crise climática se tenham destacado pela sua "originalidade, inovação e impacto". A distinção vai ao encontro do compromisso que a fundação portuguesa assumiu para com a urgência climática, de acelerar a transição para uma sociedade neutra em carbono, de mitigar os efeitos das alterações climáticas e, ainda, promover um desenvolvimento sustentável.
Na primeira edição, em 2020, a ativista sueca Greta Thunberg foi a vencedora, aplicando a verba no apoio de vários projetos escolhidos por si, incluindo iniciativas para apoiar o combate à covid-19 na Amazónia, vítimas de catástrofes naturais na Índia, Bangladesh e em países africanos, e, também, na transição energética em África.
No ano passado, o prémio foi atribuído ao "Pacto de Autarcas para o Clima", a maior aliança mundial entre mais de 10.600 cidades e governos locais de 140 países -incluindo Portugal -, destinada à implementação de medidas de proteção climática. O valor do prémio financiou projetos em cinco cidades no Senegal, para o fornecimento de água potável, e numa cidade nos Camarões, para o desenvolvimento de soluções de eficiência energética.
O prémio será entregue por Merkel numa cerimónia pelas 18 horas na Fundação Gulbenkian, com a presença do presidente da Fundação, António Feijó, e o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.