Angela Merkel diz não estar arrependida de ter permitido que a Alemanha dependesse energeticamente do gás natural russo, quando questionada sobre a estratégia adotada quando esteve à frente do Governo alemão de privilegiar os negócios com a Rússia.
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"Agimos sempre no tempo em que estamos", afirmou Angela Merkel, esta quinta-feira, na conferência de imprensa em que anunciou os vencedores do Prémio Gulbenkian para a Humanidade, em Lisboa, do qual é presidente do júri.
Questionada sobre se, neste momento, face à guerra na Ucrânia, se arrependia de ter mantido uma política energética extremamente dependente do gás natural russo, a antiga chanceler alemã disse não lamentar as decisões tomadas durante o seu governo.
Merkel defendeu que foi clara, na altura, a necessidade desse fornecimento de gás natural para a alteração de todo o abastecimento energético. "Estávamos a abandonar a energia nuclear e queríamos abandonar a energia de carvão. E, para isso, precisávamos do gás russo", explicou.
Devido ao preço mais barato do gás natural russo e da Rússia ser, desde a guerra fria, "um fornecedor confiável de energia", a antiga chanceler justificou a sua decisão de ter reforçado os contratos de gás com Moscovo.
Porém, Merkel reconheceu que a ofensiva russa na Ucrânia alterou os entendimentos com o Kremlin, sendo que compete ao atual governo alemão lidar com as novas circunstâncias, referindo-se à atitude do atual chanceler alemão, Olaf Scholz, de apoiar a redução das entregas do gás russo, no seguimento das sanções europeias.
A antiga líder alemã relembrou que foi visível o trabalho do seu governo no acelerar da luta contra as alterações climáticas, ao optar por "energias limpas" com vista a atingir a neutralidade carbónica até 2040.
Quanto ao "assalto brutal à Ucrânia" e a possível retirada de foco no acelerar da transição energética e climática, Merkel disse reconhecer a preocupação dos países europeus. Porém, defendeu que "discutir esta guerra, não fez desaparecer o debate sobre este tema. Pelo contrário, mostrou que é um desafio global a que todos os países têm de responder". Acrescentando que "não podemos perder de vista a necessidade de encontrar soluções sustentáveis para o ambiente, ao mesmo tempo que procuramos soluções para a guerra na Ucrânia".