Marcelo e o voo de Moçambique: "Só um político muito estúpido ia sacrificar 200 pessoas"
O presidente da República negou ter solicitado um adiamento do voo de Moçambique para Portugal, considerando que tal seria um ato "estúpido" e "egoísta".
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Face aos pedidos de demissão do Governo na sequência das revelações da comissão de inquérito da TAP, Marcelo Rebelo de Sousa afirmou que, para já, "não faz sentido a dissolução" da Assembleia da República, tendo em conta a conjuntura atual. No entanto, deixou avisos ao Governo e à oposição. Nem António Costa pode dar como garantido que não há dissolução, nem a oposição pode dar como certo que o presidente "empurrado" para esse cenário acaba por ceder. O chefe de Estado desafiou a oposição a ser alternativa e ao Governo a liderar sem "situações desnecessárias de desgaste das instituições".
"Um presidente sensato é o primeiro a dizer que, no mundo em que vivemos, na Europa em que vivemos e na situação em que vivemos no país, não faz sentido estar a falar de dissolução de dois em dois meses. Faz sentido a oposição aparecer como alternativa aos olhos dos portugueses e o Governo governar bem para não haver o risco de se desgastar de tal maneira que deita fora as vantagens de ter maioria", afirmou o presidente da República aos jornalistas, em Murça, no distrito de Vila Real.
As declarações de Marcelo Rebelo de Sousa surgem na sequência dos acontecimentos tornados públicos na semana passada, na comissão parlamentar de inquérito sobre a TAP. A presidente executiva da TAP confirmou uma troca de emails com o então secretário de Estado das Infraestruturas, Hugo Mendes, para uma eventual mudança de data de um voo que tinha como passageiro o chefe de Estado, Marcelo Rebelo de Sousa. Christine Ourmières-Widener revelou ainda ter reunido com o grupo parlamentar do PS antes da sua primeira audição, em janeiro, sobre caso Alexandra Reis.
Marcelo Rebelo de Sousa considerou que "não saiu bem aos olhos dos portugueses a ideia de haver uma iniciativa que reuniu TAP, Governo e gestão da TAP para preparar o que seria a intervenção parlamentar". "Era o mesmo que um professor fizesse a preparação para um exame com os alunos que vai examinar. Foi um desgaste para as instituições desnecessário", disse o chefe de Estado.
Sobre uma eventual dissolução da Assembleia da República, Marcelo Rebelo de Sousa recordou a posição que assumiu em novembro do ano passado e março deste ano. E recordou a conjuntura atual: "Temos uma guerra, temos a crise económica e financeira agravada pela guerra, temos a inflação, temos juros do empréstimo para a habitação muito altos, temos o PRR a começar a acelerar a execução e, agora, Portugal tem direito a mais dinheiro. Temos essa obrigação de gastar mais esse dinheiro".
Marcelo Rebelo de Sousa lembrou que a realização de eleições antecipadas implica uma paragem, de pelo menos, quatro meses "na vida económica, na aplicação dos fundos". "Portanto, não faz sentido neste ambiente falar periodicamente de dissolução", afirmou.
No entanto, Marcelo deixou avisos à oposição e ao Governo: "Do mesmo modo que a oposição não pode dar por garantido que o presidente empurrado, empurrado, empurrado pode, um dia, dar a dissolução, também o Governo não pode dar por garantido que por ter maioria absoluta isso é o seguro de vida para não ter dissolução. O presidente não está no bolso da oposição, nem no bolso do Governo. Está no bolso dele e é livre e independente em decidir", sublinhou.
O presidente da República disse que "os portugueses esperam" que "o Governo governe mais e melhor" e que "não haja situações desnecessárias de desgaste das instituições". Já a oposição "tem de mostrar que é alternativa". "Acho que, obviamente, não há [alternativa]", disse.
O chefe de Estado recordou que "todas" as sondagens têm mostrado que a governação "não está a ser o desejável" e que o "Governo cai". Apontam também que "não há alternativa neste momento e que, portanto, não deve haver dissolução e uma crise política a juntar àquela que existe".
"Diria que, para a oposição, o grande desafio é transformar aquilo que é o somatório dos números - as sondagens à direita dão 49% - e transformar numa alternativa política que seja uma realidade suficientemente forte para os portugueses dizerem no futuro temos esta alternativa. Do lado do Governo, o desafio é tentar evitar situações que, aos olhos dos portugueses, sejam um desgaste do Governo e das instituições. Realmente, na última semana, houve uma dessas situações"
Questionado sobre o pedido de adiamento do voo de Moçambique para Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa negou qualquer envolvimento no processo. "Nunca me passou pela cabeça essa ideia, seria estúpida e egoísta. Só um político muito estúpido ia sacrificar 200 pessoas", afirmou o presidente da República, frisando que a "TAP é uma preocupação de todos nós".
Os portugueses têm metido lá muito dinheiro. Só pensamos como é que é possível chegar a bom porto com a TAP. Nós não temos dinheiro para capitalizar a TAP. Portanto, é preciso encontrar parceiros. Há muitos candidatos a parceiros. A TAP é um tema sensível, que se deve apurar tudo o que aconteceu. Mas é um tema sensível em termos internos e externos", disse.