Com as aulas presenciais suspensas desde 16 de março, as plataformas de ensino à distância atingiram fluxos de utilização nunca antes vistos no Ensino Superior.
Nos primeiros 27 dias de março, a plataforma oficial de ensino à distância da FCCN, a Unidade de Computação Científica Nacional ligada à Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), registou 104.321 aulas e reuniões, num total de dois milhões de acessos.
Os números cedidos ao JN pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, mostram que, para além de Portugal ter ultrapassado pela primeira vez a barreira das 100 mil aulas virtuais, 44% dos universitários matriculados no atual ano letivo acederam, pelo menos uma vez/dia, a uma aula ou reunião à distância.
Aumento de 7300%
O último dia analisado, 27 de março, teve 9171 aulas virtuais, muito mais que as 124 aulas que se realizaram, em média por dia, em 2019, um aumento de 7300%. A média de utilizadores diários foi de 827 no ano passado; a 27 de março deste ano registaram-se 173.320 participações.
Os números referem-se apenas à plataforma Colibri, a única da FCT exclusiva para universidades e politécnicos, e não tem em conta outras plataformas que também estão a ser utilizadas. Face ao aumento, a FCT reforçou a ligação da rede Ciência, Tecnologia e Sociedade ao GigaPIX, o ponto de intercâmbio português na Internet, e passou a ter uma capacidade de 100 gigabytes por segundo para ligações. O tráfego GigaPIX registou um crescimento de 35% desde o aparecimento do primeiro caso confirmado de coronavírus em Portugal.
"A adoção ultrarrápida do ensino à distância é particularmente importante, devo reconhecer, e devo salientar o trabalho que docentes e técnicos de informática estão a ter", frisou Manuel Heitor, ministro do Ensino Superior, durante uma visita à Escola de Medicina da Universidade do Minho, onde 100% dos alunos começaram a ter aulas à distância na primeira semana de pandemia.
Em cursos ligados à Saúde e Desporto, por exemplo, a óbvia dificuldade são as aulas práticas. Na Medicina do Minho, foram reprogramadas todas as unidades curriculares de forma a adiar as aulas de ambiente hospitalar e laboratorial e antecipadas as teóricas. "Também promovemos um conjunto de plataformas de raciocínio clínico", indica Nuno Sousa, presidente da escola, referindo-se a exercícios de simulação biomédica e atendimento de doentes virtuais.
Armando Almeida, docente de Histologia e Embriologia do curso de Medicina do Minho, dá aulas virtuais a três turmas de 50 alunos. O uso de videoconferência serve mais para tirar dúvidas e as aulas são enviadas por vídeo, previamente, para os alunos estudarem. "O Powerpoint gravado é uma ferramenta muito útil para isso", aconselha.
Embora cada universidade tenha autonomia para decidir o que fazer em cada curso, a solução mais consensual é, atualmente, a concentração das atividades práticas no final do ano letivo, quando se prevê um desagravamento da pandemia em Portugal.
Universidades e Politécnicos disponíveis para adiar acesso
Os presidentes do Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos e do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas concordam com a adoção de soluções excecionais para o modelo de acesso ao Ensino Superior para o próximo ano letivo face à Covid-19. O prolongamento do calendário, tanto dos exames nacionais do Secundário como do início do período letivo no Ensino Superior, é uma das soluções que está a ser discutida com o Governo. No Secundário, o futuro do terceiro período vai ser decidido a 9 de abril, mas António Costa já admitiu que o ensino à distância se possa prolongar depois da Páscoa, apontando 4 de maio como a data limite para um recomeço das aulas presenciais.
Colibri/Zoom
O serviço Colibri permite o acesso exclusivo ao Zoom por parte do Ensino Superior e é o mais utilizado. Permite videoconferências até 300 pessoas com partilha de áudio, vídeo, texto, imagens, quadro branco e ecrã. As sessões podem ser gravadas.
YouTube
O mais popular serviço de vídeos também está a ser utilizado para sessões de streaming unidirecionais. Ou seja, só está no ecrã o professor que dá a aula e os alunos colocam as questões na caixa de comentários.
Educast
Não sendo exclusiva do Ensino Superior, é muito utilizada pelas universidades dada a facilidade com que permite gravar, editar e publicar vídeos educativos, como aulas, formações e tutoriais. Em março, contabilizou 9750 novos utilizadores.
Filender
É, segundo a FCT, a melhor opção para a partilha segura de ficheiros. Tem um limite de envio máximo de 100 gigabytes e foi desenvolvido tendo em conta requisitos específicos da comunidade académica e científica.
NAU
A plataforma NAU - Sempre a Aprender, disponibiliza acesso a cursos online para grandes audiências em formato MOOC (Massive Open Online Course). Tinha, no final de março, 57.127 inscritos.