Sem piscinas abertas para a realização dos cursos e certificações de novos nadadores-salvadores, a Marinha decidiu manter válidos os títulos com três anos que iam caducar este ano.
Corpo do artigo
"Com esta medida, tendo em conta o estado de emergência que vai continuar a impossibilitar a realização de cursos, é expectável que o número de nadadores-salvadores se mantenha nos níveis do ano passado", explicou Velho Gouveia, capitão do Instituto de Socorros a Náufragos (ISN). Atualmente existem 5799 nadadores-salvadores certificados para a época balnear, dos quais 224 receberam o título este ano, antes da interrupção.
"Pensando que, na melhor das hipóteses, temos o dispositivo de assistência a banhistas ativo em julho, a forma que achámos melhor, tendo em conta a suspensão das formações, foi manter o título de há três anos válido, acreditando que os portadores possuem robustez física para o exercício da profissão", refere o capitão do ISN. Ainda foi ponderada a hipótese de serem pedidos atestados médicos, mas a decisão foi posta de parte por se considerar que "os médicos disponíveis têm que estar a combater a pandemia".
Época será adiada?
A expectativa do ISN contrasta com as da Federação Portuguesa de Nadadores Salvadores (Fepons). "Estamos a realizar um estudo para perceber quantos nadadores-salvadores regressam às praias no ano seguinte. Mas, por experiência ao longo dos anos, apenas 20% o fazem", diz Alexandre Tadeia, presidente da Fepons. Embora saúde a medida do ISN, duvida que venha a ser eficaz. "Muitos dos que tinham atingido o limite do título não têm intenção de regressar. São na sua maioria jovens universitários, que teriam acabado este ano os cursos e iniciado a vida profissional".
Fernando Tadeia recusa que a medida do ISN signifique o cancelamento definitivo dos cursos este ano. À data da suspensão, decorriam nove formações, com um total de 178 formandos. São as escolas que tomam a decisão de encerramento e a Fepons, uma das certificadas, não avança já com cancelamentos. "Se em julho, por exemplo, for possível realizar, vamos fazê-lo, mas para aqueles formandos que não queiram, a Fepons vai devolver o dinheiro".
Num aspeto, ISN e nadadores-salvadores concordam: é provável que o arranque da época balnear, previsto para maio, seja adiado pela Agência Portuguesa do Ambiente e, mesmo quando entrar em vigor, deve vir acompanhado de medidas de contenção como a distância entre as pessoas.
António Mestre, da associação Resgate, admite dificuldades no respeito a tais regras. "Vai ser difícil manter as pessoas longe das praias e evitar enchentes quando estas abrirem". "A Marinha e as associações devem unir-se para reforçar os patrulhamentos nas praias durante os meses de calor, evitando a aglomeração de pessoas". "Agora é preciso salvar vidas, mas depois também vai ser nas praias", conclui.
Portaria
Incentivos nunca avançaram
A Federação Portuguesa de Nadadores Salvadores insiste na necessidade de medidas para atrair profissionais às praias. A portaria que regula a profissão, de setembro de 2015, previa a criação de incentivos que nunca avançaram.
O Governo diz que está em fase de estudo e que terá de ser feito ao abrigo do novo Estatuto da Autoridade Marítima Nacional.
Saber mais
440 praias em Portugal, 312 na faixa costeira e 128 junto a rios (fluviais), de acordo com a portaria que fixou a extensão da época balnear em 2019. Não é ainda conhecida a de 2020.
Incentivos previstos
Isenção total da propina escolar, estatuto de trabalhador estudante, acesso a nova época de exames em setembro, acesso a vagas nos cursos do IEFP, bem como incentivos à contratação no primeiro emprego. Mas não avançaram.