Se as pessoas isoladas forem autorizadas a sair de casa para votar no próximo dia 30, os médicos de Saúde Pública podem "deixar de fazer o seu trabalho de rastreio de contactos com o mesmo afinco". O aviso é de Gustavo Tato Borges, presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública.
"Cansados e assoberbados de trabalho", os médicos de Saúde Pública estão revoltados com a possibilidade de as pessoas isoladas virem a sair de casa para exercerem o seu direito de voto.
Sentem-se ultrapassados naquilo que são decisões técnicas e temem que a desvalorização do isolamento prejudique os rastreamentos futuros.
"Se o Governo aceitar esta brecha ou abrir este precedente pode acontecer que os médicos de Saúde Pública deixem de fazer o seu trabalho com o mesmo afinco porque o Governo lhes tira o tapete por baixo dos pés", refere Gustavo Tato Borges.
Ao JN, o especialista frisa que este é um aviso para o Governo.
Gustavo Tato Borges lembra que as decisões de isolamento são técnicas e não podem ser enfraquecidas porque os políticos acham que no dia das eleições não é assim tão importante estar em isolamento.
"Como é que daqui para a frente vou dizer aos meus utentes que têm de ficar isolados?", questiona Gustavo Tato Borges.
Há ainda outra questão que preocupa o líder da associação: há médicos de Saúde Pública que têm processos em tribunal por decisões de isolamento que tomaram. "Se o Governo decidir que o isolamento não é assim tão importante então está a dar razão a estas pessoas", critica.
"São dois pesos e duas medidas que não fazem qualquer sentido", ainda por cima "quando há alternativas", como a antecipação do voto e o voto ao domicílio, defende Gustavo Tato Borges.