O clima de Guerra Fria preencheu o último mês das nossas vidas. Um herdeiro russo de tendências imperialistas invadiu território alheio, desgraçando milhares de vidas de ucranianos. Como dizia Raymond Aron, vivemos um cenário em que a paz parece impossível e a guerra [mundial] improvável. O binómio contenção e rearmamento, até mesmo da Alemanha, caracteriza o atual estado da arte nas relações internacionais.
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Três iniciativas diplomáticas tentam colocar a Rússia em xeque. Uma cimeira da NATO, um Conselho Europeu e um encontro do G7. Todos em Bruxelas. O presidente francês considerou esta quinta-feira que a NATO recebeu um "choque elétrico" com a invasão russa na Ucrânia, acrescentando que haverá um reforço do envio de armamento para o país invadido. António Costa não fez por menos. "Vladimir Putin deu uma "nova vida à NATO", afirmou o primeiro-ministro.
Num discurso em vídeo pré-gravado, na cimeira da NATO, o presidente ucraniano alertou que Moscovo "quer ir mais longe", atacando os membros orientais da aliança transatlântica, incluindo a Polónia. "A NATO ainda precisa de mostrar o que é que pode fazer para salvar as pessoas", instou Volodymyr Zelensky. Para já, certo é que a NATO vai reforçar os sistemas de defesa química, biológica e nuclear. Joe Biden, presidente dos EUA, não hesitou em dizer que, em caso de ataque daquela natureza, a resposta será dada na mesma moeda. Nesse caso, a guerra improvável passaria a ser uma realidade com danos colaterais incertos.
Entre mortos e feridos, a Ucrânia vai logrando pequenas vitórias no terreno, como lembra o enviado do JN a Odessa, a cidade portuária que para muitos será o próximo alvo a conquistar pelo exército russo. O desnível do conflito não é tão evidente quanto se temia no início. Tanto assim que a Rússia e a Ucrânia procederam esta quinta-feira à primeira grande troca de prisioneiros de guerra desde o início da ofensiva russa. Os sinais de desgaste político vão surgindo a conta-gotas do lado russo. Relatos vindos do Kremlin sugerem que Vladimir Putin estará a realizar uma purga no seu círculo íntimo.
A guerra contém um certo de grau de incerteza quanto à sua extensão, mas as consequências para o nosso bolso são cada vez mais palpáveis e o futuro próximo não augura nada de positivo. A economia irá crescer menos em 2022 do que se previa e a inflação superará os valores anteriormente previstos pelo Banco de Portugal. Tudo devido à guerra na Ucrânia. As questões energéticas estão na agenda e par ibérico parece cada vez mais concertado na procura de soluções para mitigar os custos decorrentes de um conflito que tornou evidente uma dependência exagerada da Europa em relação ao gás russo.
No plano interno, "habemus" Governo, o que só ser visto como um bom sinal. O leitor pode consultar desde agora toda a sua composição ao nível ministerial. A tomada de posse é já no dia 30. Aguarda-se agora por um Orçamento do Estado para que a crise seja menos penosa.
Não querendo assustar o leitor, alerto para o facto de o Mundo não parar de girar. Ou seja, nem tudo o que se passa tem relação direta com a Ucrânia ou com a Rússia. Pyongyang disparou um míssil balístico intercontinental que caiu em zona económica exclusiva do Japão. Paz impossível, guerra improvável?
Boa noite e bom final de semana.