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Quase dez meses depois de ter recusado a "boleia americana" para fugir ao início da operação militar especial russa que previa tomar Kiev em três dias, Volodymyr Zelensky deixou a Ucrânia pela primeira vez. A visita aos Estados Unidos atingiu todos os alvos pretendidos, e entre a garantia de ajudas financeiras e militares, o discurso do presidente ucraniano no Congresso terá reavivado o "interesse" pela guerra que grassa no leste da Europa, mas talvez tivesse sido escusado dar aquele toque de espetáculo tão tipicamente norte-americano.
Depois de ver confirmado, no encontro com Joe Biden na Casa Branca, que o novo apoio dos Estados Unidos vai atingir os 1,85 mil milhões de dólares e que receberá o sistema de defesa antiaérea Patriot - além de drones e outras aeronaves -, Zelensky discursou, em inglês, perante um Congresso ainda de maioria democrata, mas sempre a piscar o olho aos republicanos, que tomarão conta do mesmo no início de 2023.
A operação de charme bipartidário de Zelensky foi muitíssimo bem preparada - a entrega de uma bandeira fica sempre bem - e as pontes que o líder ucraniano fez com a história bélica dos Estados Unidos da América terá caído bem nos congressistas. Palmas, muitas palmas a cada frase, e até umas quantas gargalhadas a destoar com o drama que se vive na frente da guerra e com a tragédia que, diariamente, se abate em centenas de familiares de soldados ucranianos e russos caídos em combate. Mas, como também dizem os norte-americanos, "the show must go on".
Já de regresso à pátria, Zelkensky ainda se reuniu com o presidente polaco antes de chegar a Kiev, enquanto da frente de batalha nos chegam mais horrores, como a descoberta de uma nova vala comum em Kherson ou da intensificação dos ataques russos a Donetsk numa tentativa de recuperar o controlo no leste da Ucrânia.
A reação russa foi clara: o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, garantiu que o fornecimento de armas por parte do Ocidente vai "levar a um agravamento da guerra" e que "não é um bom presságio" para a Ucrânia, enquanto o ministro da Defesa russo pediu para expandir o contingente militar em pelo menos mais 500 mil pessoas.
Noutras latitudes, a China deu uma volta de 180º e, depois de quase três anos de política "covid zero", levantou praticamente todas as restrições e os casos aumentam exponencialmente. Num país de 1,4 mil milhões de pessoas e em que apenas 50% da população tem mais do que uma dose da vacina local - aparentemente menos eficaz - teme-se que 60% dos chineses possam ficar infetados em breve e que o número de mortos diários atinja os nove mil. Um cenário assustador, mas que é bem explicado pelos especialistas ouvidos pelo JN neste trabalho.
O Afeganistão, esse, dá mais um passo rumo à Idade da Pedra, expressão utilizada pela ministra alemã dos Negócios Estrangeiros para comentar a decisão do governo talibã em proibir que as mulheres frequentem a universidade. O G7 já fala em "crimes contra a humanidade".
Por cá, as portagens vão aumentar 4,9% e isso só do ponto de vista do utilizador. O Governo, sempre solidário, suporta os outros 2,8% e prevê gastar qualquer coisa como 140 milhões de euros em 2023 para apaziguar as concessionárias, que queriam aumentos a rondar os 9,5 aos 10,5%. A guerra na Ucrânia até pode ser desculpa para quase todos os aumentos, mas quando o asfalto já está pago há décadas - com o dinheiro dos contribuintes -, se calhar neste caso a justificação não cola.
O Natal, esse, está aí à porta e pelos vistos vem com má cara. Boas festas para todos, mesmo com chuva e vento forte e uma greve nos comboios que promete dificultar a vida a quem viaja na antevéspera de Natal.