Novo ano letivo, velhos problemas nas escolas
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Nas 185 páginas onde está vertido o programa do Governo, apenas por sete vezes se recorre à palavra equidade. Duas das quais (menos mal) quando se aborda a Educação. Quanto ao modelo de colocação de professores e ao acesso ao Ensino Superior. No documento ontem divulgado pelo Ministério da Educação a propósito das medidas aprovadas em Conselho de Ministros na véspera do arranque de mais um ano letivo, surge uma vez. "Não deixar alunos para trás", vinca-se. E nada será mais importante. Num país onde mal se nasce se abre uma sociedade iníquia. Da creche aos bancos da faculdade. Onde o elevador social parou e parece não haver mão-de-obra para o consertar.
Neste ano letivo, mais uma vez, outra vez, milhares de alunos não têm todos os professores. Dos primeiros anos de vida, passando pela Educação Especial, focando no Português e Matemática (quando, na primeira disciplina, o exame nacional é agora obrigatório para concluir o Secundário; e quando, na segunda, continuamos com níveis de proficiência muito aquém do desejável). Mas faltam também professores de Informática, o que não deixa de ser irónico face à tentativa falhada de introdução de manuais digitais e à recomendação de proibição de uso de smartphones até ao 6.º ano. Esta última daria pano para mangas. E quem tem grupos de pais no WhatsApp sabe bem porquê (a educação começa, ou não, em casa?).
Face à reiterada falta de docentes, os pais, os que podem, desdobram-se. Em contas. Entre explicadores para os filhos, as filhas, terem acesso às aprendizagens que o Estado não lhes garante. Ou mesmo recorrendo ao ensino privado para garantir que os filhos, as filhas, não ficam para trás quando concorrerem ao Ensino Superior. Fernando Alexandre desdobra-se em tentativas de soluções para resolver o problema no imediato, já que o de fundo carece de tempo. Numa altura em que, para muitos, o ano novo acontece agora, com o arranque de mais uma época escolar, repetindo-se, entre a comunidade educativa, os votos de "bom ano"!
De volta das contas anda também o Executivo liderado por Montenegro, concretamente o das Finanças, na reta final de mais um Orçamento do Estado. O primeiro deste Governo. Com foco negocial nos impostos. Num dia em que as contas daqueles pais, e de todos os portugueses que contraíram um empréstimo para comprar casa, aliviam um pouco, com o Banco Central Europeu a cortar, pela segunda vez neste ano, as taxas de juro em 25 pontos base.