Radar Europa: Sondagem, debate e... outra vez a imigração
Entramos na semana final de campanha, o tempo político acelera. Esta segunda-feira foi dia de sondagem e de debate nas rádios. A imigração volta a marcar a agenda, também por iniciativa do Governo. Em Bruxelas discute-se se Ursula von der Leyen conseguirá renovar mandato na Comissão, ou se terá um rival: Mario Draghi.
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A sondagem da Aximage publicada esta segunda-feira no JN dá uma vantagem de quatro pontos ao PS (30,6%) sobre a AD (26,6%). Mas não são favas contadas. Para além da margem de erro baralhar as contas (o patamar mínimo para o PS é de 27,1%, o máximo para a AD é de 30,1%), é preciso ter em conta que, quando se compara com a sondagem de abril, os dois maiores partidos estão mais próximos. Outros dados que contribuem para manter a incerteza: os 8% de indecisos e a abstenção, que em 2019 foi de 65% em território nacional (70% se incluirmos quem vota no estrangeiro). Se um partido for mais eficaz do que outros a mobilizar a sua base eleitoral, pode sempre haver surpresas.
Feito o alerta, e tendo em conta a projeção de resultados da Aximage, o PS conseguiria eleger oito deputados (foram nove em 2019); a AD ficaria com seis (PSD e CDS elegeram sete há quatro anos); o Chega teria quatro; IL, BE e Livre elegeriam apenas os seus cabeças de lista. De fora ficariam a CDU e o PAN. Note-se que os comunistas não estão fora da corrida. Um punhado de votos pode alterar o destino do último dos 21 deputados, numa luta a três: João Oliveira, o cabeça de lista da CDU, o oitavo da lista socialista e o quarto da lista do Chega.
Para que o leitor deste “Radar Europa” tenha outros termos de comparação, recordamos os resultados da sondagem da Universidade Católica para o Público e a RTP, cujo trabalho de campo decorreu alguns dias antes da que foi conduzida pela Aximage para o JN, DN e TSF. Na sondagem da “concorrência”, era a AD que liderava (31%), com um escasso ponto de vantagem sobre o PS (30%). No que diz respeito a mandatos, teriam ambos entre seis e oito. O Chega (15%) ficaria com três a quatro, enquanto a IL (6%), o BE (5%), o Livre (5%) e a CDU (5%) conseguiriam eleger os seus cabeças de lista. De fora ficaria apenas o PAN.
Portugueses e europeístas
A sondagem publicada para o JN não se limitou a projetar resultados eleitorais. Fizeram-se várias perguntas sobre o futuro da União Europeia, que confirmaram que os portugueses estão entre os povos mais europeístas dos 27. No entanto, se a ideia for transformar a Europa numa espécie de “Estado Federal”, o entusiasmo é mais contido. Deixo aos leitores o resumo de alguns dos resultados mais significativos, mas acrescento que poderá consultar todos os dados e fazer a sua própria leitura aqui e aqui.
- Confrontados com a possibilidade de o processo de integração evoluir para um “Estado Federal”, 46% defendem essa via, mas há 38% que optariam pela devolução de competências e soberania aos países.
- Os cidadãos estão alinhados com uma estratégia comum de defesa na UE: 80% concordam com a criação de um fundo que financie o investimento nas indústrias de defesa; e 77% apoiam uma força militar europeia de reação rápida.
- Seja a UE mais federal ou mais intergovernamental, os portugueses apoiam a transferência de mais competências do nível nacional para o europeu: na segurança externa (79%), ambiente (77%), energia (75%), negócios estrangeiros (70%), indústria (67%), saúde pública (65%) e até na educação (62%).
Imigração outra vez
Esta segunda-feira foi dia de debate nas rádios. Uma última oportunidade para um confronto direto entre os principais candidatos, com tensão elevada logo no tema de abertura: a imigração. Foi uma espécie de todos contra Tânger Correia, o cabeça de lista do Chega, por causa do retrato que traçou da imigração, usando o alegado exemplo de Vila Nova de Milfontes, para associar, mais uma vez, os imigrantes à criminalidade. O mais veemente na contestação foi, desta vez, Cotrim Figueiredo, da Iniciativa Liberal, que associou o que acabara de ouvir a xenofobia e racismo.
Ainda que o Chega faça o retrato de um país que não existe – há graves problemas na comunidade de imigrantes, mas não de criminalidade -, certo é que o tema tem sido central em toda a campanha eleitoral. E até o Governo deu hoje o seu contributo, anunciando a reversão de uma medida do Governo anterior: os imigrantes deixam de poder regularizar a sua situação em Portugal com uma mera "manifestação de interesse", e passa a ser necessário ter um visto de trabalho ainda antes de fazer a viagem. André Ventura não desperdiçou a oportunidade, reclamando para si os méritos da proposta.
Se quiser saber um pouco mais sobre a discussão à volta da imigração, mas também sobre os outros temas do debate, poder ler a notícia aqui, mas também o pode rever em vídeo no site da TSF.
Ursula ou Mario?
Uma das competências do Parlamento Europeu é a eleição do presidente da Comissão Europeia. A nomeação do candidato é feita pelo Conselho Europeu, onde têm assento os chefes de Estado e de Governo dos 27, mas a decisão tem de ser confirmada pelos deputados. E para isso é necessária uma maioria simples de 361 deputados (em 720). Até há poucas semanas, a reeleição de Ursula von der Leyen parecia quase uma formalidade. A poucos dias da ida às urnas, já não há tantas certezas. Mas vamos por partes.
As areias na engrenagem podem começar logo no Conselho Europeu. É verdade que Partido Popular Europeu (a família de centro-direita de que faz parte von der Leyen) é o mais numeroso, com 12 chefes de Estado e de Governo. Mas, para se ser indicado como líder da Comissão é necessária uma maioria qualificada. E, nas últimas semanas, Emmanuel Macron (França) decidiu baralhar as contas, lançando o nome de Mario Draghi (ex-primeiro-ministro de Itália e ex-presidente do Banco Central Europeu) para cima da mesa. Se o impulso a Draghi falhar, já existe um “plano b”: indicá-lo para a presidência do Conselho Europeu. Uma má notícia para António Costa, que tem sido apontado como favorito para o lugar.
Supondo que von der Leyen ultrapassa a primeira etapa, segue-se o Parlamento Europeu. E o mínimo que se pode dizer é que o caminho é estreito. Mesmo que a atual presidente da Comissão seja capaz de negociar um acordo com as famílias dos socialistas e dos liberais, dificilmente chegará ao número mágico de 361 deputados, uma vez que, a julgar pelo histórico, há uma elevada percentagem de dissidências, ou seja, deputados que se recusam a seguir a indicação dos seus grupos parlamentares.
É isso que ajuda a explicar, aliás, o reiterado “namoro” de Ursula von der Leyen a Giorgia Meloni, a primeira-ministra italiana e figura de referência do grupo de Conservadores e Reformistas (ECR), onde estão vários partidos da direita radical populista. Um tiro que lhe pode sair pela culatra, uma vez que liberais e socialistas já disseram, com quase todas as letras, que, em caso de acordo com o ECR e Meloni, a grande coligação de centro deixará de existir.
O albergue espanhol
Uma das maiores bancadas nacionais do Parlamento Europeu é a de Espanha: elege 61 deputados (mais só a Alemanha, com 96, a França, com 81, e a Itália, com 76). Mesmo que se perceba que continuará a ser um verdadeiro albergue espanhol (mais de uma dezena de partidos terá representantes em Estrasburgo), os dois maiores, PP (centro-direita) e PSOE (centro-esquerda) terão sempre um peso político importante nas famílias do Partido Popular Europeu e dos Socialistas e Democratas, com pelo menos duas dezenas de deputados cada um.
Também esta segunda-feira foi publicada, pelo jornal “El País”, uma sondagem com a projeção de resultados das eleições de 9 de junho. O PP lidera com 33%, o que que dá 23 deputados, seguido de muito perto pelo PSOE, com 30% e 20 deputados. Vem depois um numeroso pelotão de partidos que incluem o Vox (direita radical, com sete deputados), os dois partidos à Esquerda dos socialistas (Sumar, com três, e Podemos, com dois), um novo movimento político batizado “Acabou a festa”, liderado por um conhecido agitador das redes sociais (um deputado), e, finalmente, os vários partidos regionais catalães, bascos, galegos, e de outras comunidades, a solo ou em coligações (cinco deputados ao todo).
Um voto mais esclarecido
Finalizo este “Radar Europa” com duas sugestões a que pode aceder através do JN. Em primeiro lugar, o EUVoto, a versão portuguesa do VoteMatch Europe, “uma ferramenta que permite descobrir quais os partidos que melhor se alinham com as suas opiniões”. Depois de dar a sua opinião sobre uma série de declarações, os resultados vão apresentar-lhe uma lista de partidos. O que estiver no topo é aquele com o qual tem mais posições em comum. No fundo, vai ajudá-lo a perceber com que partido, ou partidos, mais se identifica.
A outra sugestão é na verdade uma infografia digital que o ajuda a perceber os diferentes caminhos para se ser eleito para o Parlamento Europeu. Ficará rapidamente a saber quantos deputados elege cada país, se são eleitos em círculos nacionais ou se existem vários círculos eleitorais, qual a idade para eleger ou ser eleito, entre outras informações relevantes.