O dia de hoje foi como um choque de realidade para quem pensava que o país já se tinha livrado dos protestos sindicais, a exigir mais e melhores condições de trabalho, e do crime violento que nos aproximava mais da América do Sul do que do almejado Centro da Europa.
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A manhã começou com uma manifestação dos bombeiros sapadores que, imagine-se, há 22 anos reclamam “acertos salariais para compensar o aumento da inflação”, que até podem ter a forma dos agora tão populares suplementos de risco, penosidade e insalubridade. A reivindicação não parece exagerada, não terá um impacto económico significativo (há menos de três mil bombeiros sapadores em Portugal) e não é diferente daquela que foi concedida a outros setores.
Mesmo assim, entre as tradicionais homenagens após os fogos, os bombeiros sapadores só tiveram a garantia da ministra da Administração Interna, Margarida Blasco, que as negociações vão continuar para assegurar o estatuto de bombeiro. Já dinheiro, avisou a governante, terá de ser pedido às autarquias, que são essas os “patrões” dos sapadores.
Os protestantes não gostaram, romperam a barreira de segurança e, entre petardos, potes de fumo e pneus a arder, invadiram a escadaria da Assembleia da República. Atitudes iguais justificaram, noutros tempos, bastonadas e confrontos com a PSP. Desta vez, no entanto, o bom senso imperou e não tivemos fardas contra fardas.
A violência, porém, não demoraria a ser notícia. Ao início da tarde, e a uma curta distância do protesto dos sapadores, três pessoas eram assassinadas a tiro. Uma dentro de uma barbearia, as restantes na rua. Os homicidas continuam a monte, as autoridades ainda estão a tentar perceber a motivação e os moradores mantêm-se revoltados com um episódio que volta a colocar em causa a premissa, repita incessantemente por políticos e polícias, que Portugal é um país seguro.
Quem estiver a ver no Estádio da Luz, a ver o Benfica a tentar conquistar os três pontos ao Atlético de Madrid, certamente acreditará que a violência estará somente na ponta das chuteiras dos homens de Diego Simeone, esses brutos que querem matar a esperança benfiquista de reconquistar a Europa.