Dulce Duca recolhe histórias de portugueses em Inglaterra. De 22 a 25 de maio está no Imaginarius, em Santa Maria da Feira.
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Encontrou o circo de uma forma inesperada. Tinha 18 anos, estava acampada no Gerês, ouviu falar numa convenção de malabarismo nas Astúrias, Espanha. Fez-se à estrada sem saber do ofício. “Sempre me deixei levar pela minha intuição.” Aos 21, estava num curso de acrobacias aéreas no Chapitô e a aprender ginástica acrobática. Queria levar o malabarismo a sério, atingir um bom nível para concorrer a escolas na Europa, num tempo em que o circo não era reconhecido como arte em Portugal. Dulce Duca é malabarista, artista de circo, atriz. Nasceu em Lisboa.
Há sete anos que vive em Inglaterra. Antes disso, numa escola em França, conheceu o seu mentor, estudou, e a sua voz e dos colegas foi ouvida e reconhecida. “Por empurrarmos as barreiras do que é possível fazer a nível de formação e invasões artísticas, por darmos opinião sobre como o dinheiro devia ser gasto – chamavam-nos utópicos, mas conseguíamos fazer. E isso mexeu bastante com a comunidade de circo em França”, recorda. Cinco anos depois, mudou-se para perto de Barcelona para continuar a aprender com o seu mestre. A arte do circo não foi uma escolha consciente. Deixou-se absorver, deixou-se engolir sem fazer perguntas, e aprendeu depressa. “Gosto de jogar com o absurdo. Gosto de entrar na personagem, o malabar é um objeto que usa para se exprimir. Gosto de lidar com a fisicalidade”, conta.
Morou nove anos em Espanha e mudou-se para a região de Norfolk, no este de Inglaterra. Tem a sua companhia em nome próprio e dois espetáculos a girar pelo Mundo – já esteve em Macau, México, Cabo Verde, Brasil, China, e andou pela Europa. “Um belo dia” é teatro físico. “É uma poesia, não tem uma história, é a maneira como a personagem lida com emoções, com a alegria, raiva, tristeza e o amor.” Envolvente e emocionalmente forte.” “Imparável” é uma paródia. Uma mulher que se acha uma diva e uma mãe-galinha sempre a interromper.
Dulce Duca é malabarista num espetáculo da companhia Gandini Juggling, gere e dá aulas na Drillaz Circus School, escola comunitária de circo, e tem um podcast (Dulce Duca’s Global Norfolk) com histórias de portugueses que vivem na região de Norkfolk. “A minha interação foi tão grande que a BBC pede-me para ser uma ponte com os imigrantes locais. Cidades ou aldeias convidam-me, como artista, para interagir com os imigrantes e criar espetáculos como forma de integração.” Uma das suas próximas paragens é o Imaginarius – Festival Internacional de Teatro de Rua de Santa Maria da Feira, de 22 a 25 de maio, com a Orquestra de Malabares, da companhia espanhola de novo circo Pistacatro, com a Banda Sinfónica de Jovens da Feira. Circo e música ao vivo. Dulce Duca abre o apetite. “É teatro físico, divertido do início ao fim, é visual, é bonito, musicalmente culto, interessante, é um espetáculo completo.” E ela lá estará na pele de malabarista.