Nuno Marques criou o Porto Pianofest que celebra a 10.ª edição. É um regresso a casa, à cidade onde nasceu, antes de voltar aos Estados Unidos, onde trabalha com uma das mais reconhecidas companhias de dança do Mundo.
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Em criança, sentava-se ao piano em casa dos avós, onde a mãe e os tios tinham aprendido a tocar, a explorar os sons que saíam das teclas brancas e pretas. Contavam-lhe que a bisavó tinha sido pianista, não profissional, no tempo do cinema-mudo. Os pais perceberam que talvez não fosse apenas brincadeira de miúdo. Aos cinco anos, inscreveram-no no piano. "Os genes estavam na família", comenta. Nunca mais se desviou do caminho da música.
Estudou na ARTAVE - Escola Profissional Artística do Vale do Ave, em Famalicão, onde cresceu, continuou o seu percurso em Londres, licenciatura na Guildhall School of Music and Drama, mestrado em performance no Royal College of Music. Voltou sete anos depois, tinha muita atividade em Portugal, bastantes concertos. Entretanto, veio a crise e o trabalho diminuiu. Partiu para Nova Iorque, um desejo antigo, frequentou uma pós-graduação, tirou um doutoramento, fixou-se na cidade, onde vive há mais de uma década. Nunca parou de tocar, atuou em importantes salas, como o Carnegie Hall, e em festivais pela Europa, Estados Unidos e Ásia. Fez duas digressões pela China, tem sido convidado a ensinar em masterclasses em vários países de diferentes continentes. Como solista, atuou com a Orquestra de Myanmar, num projeto humanitário de desenvolvimento cultural com jovens da minoria Rohingya.
Há três anos que Nuno Marques é pianista, a solo e em orquestra, da companhia ABT - American Ballet Theatre. "É uma grande companhia, reconhecida a nível mundial, onde estão as super estrelas da dança, é um privilégio." Está no coração das artes. É diretor musical da companhia Starts of American Ballet e tem sido pianista convidado no New York City Ballet. Ensina e toca. "Gosto muito dessa combinação. Há uma tradição de continuar o legado do ensino, tive grandes mestres, e desenvolver a minha atividade artística, de performance."
Há uns anos, num sábado à tarde, num restaurante na zona da Broadway, a vontade de fazer alguma coisa, sem saber bem o quê, ganhou formas numa conversa com Mariel Mayz, namorada na altura, agora sua mulher. Nascia assim o Porto Pianofest que ganhou corpo com uma componente pedagógica forte, concertos, diplomacia cultural, tal como havia sonhado. "Só fazia sentido se fosse em casa", conta. Como forma de retribuir tudo o que recebeu.
O festival internacional já começou com cerca de 30 artistas, 25 eventos espalhados por 13 espaços do Porto e não só. É a 10.ª edição, tem iniciativas gratuitas e a preços simbólicos, e volta a aproximar a música erudita do público num ambiente descontraído. Reúne mestres e jovens talentos em masterclasses, residências e concertos até 12 de agosto, com estreia em Serralves e na Câmara do Porto. Nuno Marques, como fundador e diretor artístico, sente que a missão se cumpre. "Democratizar o acesso à música e à cultura de qualidade", refere.
Do outro lado do Atlântico, a emigração portuguesa, em Nova Iorque e redondezas, surpreendeu-o. "É uma comunidade organizada e forte, que se reúne, que tem centros comunitários, que abriu clubes, escolas, tem bolsas de estudo, muita atividade cultural." Aprecia o que vê à volta, mas voltar nunca está fora dos planos.
Nuno Marques é apaixonado por fotografia, confessa-se fotógrafo amador, nos formatos digital e analógico. Por literatura também, de vários géneros, Saramago enche-lhe as medidas. E por viajar, conhecer Mundo, sempre que possível.
NUNO MARQUES
Localização Nova Iorque, Estados Unidos
Profissão Pianista
Idade 44 anos