Da saúde à estética, a eletroestimulação tem vindo a granjear cada vez mais entusiastas. Modelada na sua intensidade, frequência e forma de impulso, chega ao organismo através de aparelhos com elétrodos ou fatos para praticar exercício, ajudando a atenuar dores e inflamações, a perder peso e tonificar o corpo.
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Para Sandra Dias, a eletroestimulação foi a resposta à vontade de perder peso e tonificar o corpo, numa altura da vida em que o tempo escasseia. Esta mãe de dois filhos, que se desdobra para gerir a família, o trabalho e a casa, conseguiu perder 14 quilos desde que em setembro começou a frequentar o ginásio da Techbody, na Parede (Cascais). Chega ao estúdio, veste um fato e faz, em média, sessões de 25 minutos, duas vezes por semana, orientados por um Personal Trainer, poupando tempo para a “correria” do dia a dia.
Antes, Sandra também fazia ginásio, com treinos convencionais de uma hora, três a quatro vezes por semana, e conseguiu igualmente perder peso. Mas o corpo ficou “flácido”, conta, explicando que, com a eletroestimulação, sente “os músculos mais ativos e o corpo mais definido”. Os resultados começaram a ser visíveis após um mês, entusiasmando o marido, que não fazia exercício e também quis aderir.
A história de Sandra é a de muitos clientes da TechBody, dizem Luiz Santana, CEO do grupo, e Fernanda Arraez, diretora de marketing. O projeto arrancou há uma década e conta hoje com uma dezena de estúdios em todo o país.
A eletroestimulação “não é novidade”, sublinha Luiz Santana, especificando que há muito é usada em tratamentos de dor e reabilitação, nomeadamente na área da saúde e alta competição desportiva. A forma como a aplicam no fitness, recorrendo a eletroestimuladores de corpo inteiro, como se chamam os fatos com vários elétrodos que usam corrente elétrica para estimular os músculos enquanto as pessoas treinam, simulando a contração voluntária comandada pelo sistema nervoso central, é que é novidade.
A técnica “consegue acelerar os resultados” de quem treina, prossegue Santana, revelando que a falta de tempo é a principal barreira – ou desculpa – para não se treinar. Com os fatos da TechBody, aos clientes basta treinarem entre 20 a 25 minutos por sessão, duas a três vezes por semana, para terem os mesmos “benefícios se treinassem o dobro das vezes”, acrescenta. Mas não, não vale apenas vestir o fato e ficar parado. É preciso realizar um treino ativo e intenso para maximizar os efeitos dos impulsos nos músculos.
Em novembro, a empresa lançou um produto novo, o TechbodyU, um kit inovador composto por um fato, dispositivo e uma biblioteca com treinos, para as pessoas treinarem em casa ou noutro local. Isto permitiu chegar a novos mercados, como residentes nos arquipélagos da Madeira e dos Açores e até emigrantes portugueses que vivem noutros países, nomeadamente na Alemanha, Luxemburgo, Suíça e Holanda.
A partir dos 14 anos, todos podem treinar em estúdio ou em casa. Ou melhor, quase todos, porque há contraindicações absolutas ao uso da eletroestimulação, que abrangem pessoas com dispositivos médicos eletrónicos implementados no corpo (como pacemaker), grávidas e quem sofre de patologias como epilepsia, doenças cardiovasculares e neurológicas graves. Há, depois, outras contraindicações relativas, como hipertensão e diabetes, que carecem de aconselhamento médico.
A maioria dos clientes da Techbody – mulheres, dos 35 aos 45 anos, que não têm tempo e querem algo eficaz – procura perder peso. Mas este “treino inteligente”, refere Fernanda Arraez, supre outros problemas, como o de pessoas que querem tonificar o corpo ou simplesmente treinar, apesar de terem dores.
Por isso, não é de estranhar que também haja pessoas a vestir o fato para ganhar massa muscular e fazer alguma espécie de reabilitação, uma vez que este treino não tem carga/impacto. “Tem sido uma boa ferramenta para dar saúde e qualidade de vida a quem precisa fazer reforço, mas não pode meter peso no treino por ter, por exemplo, problemas nas articulações ou dores lombares”, pormenoriza Santana.
Cada vez mais adeptos
A procura por este tipo de soluções tem vindo a aumentar. Que o diga Gisela Lima, que em 2016 fundou a eBody e tem hoje vários estúdios no norte do país e na zona de Lisboa. Na calha está a abertura, este ano, de mais dois.
Nestes espaços também recorrem a fatos de eletroestimulação de corpo inteiro, que permitem aos clientes, mediante treinos personalizados de 20 minutos, uma vez por semana, com a presença de um personal trainer ou fisioterapeuta, “resultados equivalentes a três horas de treino convencional”, assegura a administradora.
No início, quando se instalam numa nova localização, a “novidade causa interesse, mas também ceticismo”, por parecer “tão fácil e demorar tão pouco tempo”. Mas depois os resultados começam a aparecer, arrastando mais e mais clientes.
Os motivos para vestir o fato variam. Para além dos clientes que querem emagrecer, há pessoas com patologias que procuram o serviço porque não podem realizar exercício convencional, seja devido a hérnias, dores nas costas, articulares ou outras, mas desta forma conseguem “fazer recuperação saudável”, diz Gisela Lima. Há, inclusive, clientes com mais de 60 anos que “conseguem recuperar alguma qualidade de vida” e mulheres que procuram melhorar a sua condição física após o parto. Por perceber a existência deste mercado, atualmente a eBody está desenvolver programas direcionados para vertente clínica, criando um “mix entre fitness e saúde”.
Terapias e estética
Pese embora o crescimento na área do fitness e novas abordagens, a eletroestimulação continua a desempenhar um papel importante na área da saúde. Na sua Clínica de Terapias Naturais, o osteopata, especialista em medicina chinesa e acupuntor Nuno Assis recorre à eletroestimulação há 20 anos. Esta “corrente elétrica, modelada na sua intensidade, frequência e forma de impulso”, que chega ao corpo através de elétrodos, tem vários benefícios, ajudando, por exemplo, em casos de dor lombar e inflamações.
“Todos nós temos uma capacidade endógena de produção de substâncias que regulam o nosso organismo”, como analgésicos e anti-inflamatórios, mas, em determinadas condições, nomeadamente quando a doença está mais avançada, “a quantidade não é a necessária para debelar completamente a patologia”, explica o profissional, pelo que é preciso recorrer a medicação e outro tipo de terapêuticas. “A eletroestimulação propicia que estas substâncias sejam produzidas em determinada localização”, o que acelera a recuperação.
Dela podem beneficiar, por exemplo, pessoas acamadas ou em recuperação após cirurgias, situações em que os músculos têm uma ação diminuída e precisam de ser tonificados para não atrofiarem. Casos de fraturas, em que os músculos não são usados durante a recuperação e perdem tónus, são outro exemplo.
Nesta clínica, a técnica é integrada nas diversas abordagens ligadas à osteopatia, medicina chinesa e acupuntura – com a agulha de acupuntura, por exemplo, a ser “estimulada de diferentes formas, imitando a manipulação manual”.
Na Living Clinic, a fisioterapeuta Sara Maia recorre a um aparelho de eletroestimulação, o emsculpt neo, para aproveitar as vantagens da corrente elétrica (sozinha ou combinada com radiofrequência) para várias finalidades, que podem ir da vertente terapêutica à estética.
Pela porta entram-lhe recém-mamãs com diástase (afastamento dos músculos abdominais) que esperam, através da eletroestimulação, conseguir uma diminuição do afastamento. Também há quem tenha em mente questões mais do foro estético, como a tonificação do músculo abdominal e dos glúteos.