Nasceu no Alentejo com veia artística. Estudou em Londres, lavou pratos e serviu às mesas. Voltou e tornou-se o homem dos sete instrumentos do teatro. Escreve, encena, ensaia. É perfecionista e teimoso. Megalómano da parte do pai, irónico da parte da mãe. Faz 80 anos a 17 de maio.
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Estamos no Teatro Politeama, na baixa de Lisboa, sua casa, seu palco maior. Há ensaios a acontecer, salas-escritórios com gente ao telefone, costureiras a tratar do guarda-roupa, cartazes de êxitos nas paredes. Filipe La Féria não pára no labirinto de escadas que percorrem os bastidores e levam a todo o lado. Prepara a promoção da peça “A revista é uma festa”, que estreia a 29 de maio no Centro de Artes de Águeda e a 11 de junho no Teatro Sá da Bandeira, no Porto. Uma sátira, um olhar sobre o momento social e político de Portugal em 2025. “Com a sua parte luminosa, mas também com a sua sombra”, descreve o encenador, dramaturgo, produtor. Com voz inconformada e rouca, olhar fino e sagaz, fala do ofício e da arte, de amor e de afeto. Dentro de si, mora uma criança deslumbrada.
Fala muito de amor, de sonho, de bondade. O país precisa de esperança?
Então, não precisa? Basta andar aqui na baixa e ver tantos mendigos, ouvir na televisão notícias que todos os dias são sustos, vivemos numa época à beira do abismo. Eu próprio, na “Fátima”, faço essa análise, essa comparação entre 1917, o ano da guerra, o ano da gripe espanhola, o ano em que morreram milhares de portugueses, com a atualidade que vivemos, para o bem e para o mal.
Com ameaças à democracia?
Mais do que à democracia, ao próprio ser humano. Vejamos os líderes que há, os Putins, os Trumps, aliás vão estar todos no palco em “A revista é uma festa”. Temos de rir. O humor vem sempre do trágico. O trágico e o humor são dois contrastes que se juntam e o teatro é a arte do homem, que analisa, que espelha a sociedade em que vivemos e a transfigura. Em todos os meus espetáculos, espero sempre que o espectador saia um pouco diferente, com uma pequena dúvida na sua cabeça, e o torne um cidadão mais feliz, um ser humano mais compreensível, mais tolerante, mais democrático.
As suas peças são um retrato do país?
Sim. A grande força do teatro, e do segredo que tenho para arrastar estas multidões, é falar de nós próprios. Temos de falar olhos nos olhos. E o teatro, mais do que o cinema, mais do que a televisão, mais do que as redes sociais, e tudo o que se pode inventar, tem uma coisa que é insubstituível: estamos a falar olhos nos olhos com os espectadores. Todos os dias, uma peça é diferente porque tão protagonista é o ator como o espectador. É essa comunhão, essa interatividade, que torna o teatro, desde o homem das cavernas, uma arte universal e imortal – enquanto o homem dura porque tudo é muito efémero na vida e isso é muito parecido com o que é o teatro. O teatro é uma arte efémera. Todos os dias é diferente e todos os dias tem esse quase momento de eternidade, mas que se esvai, esvai-se quando as luzes do teatro se apagam.
Tem casas cheias. Como explica esse fenómeno?
Trabalho, sangue, suor e lágrimas. Não tenho subsídios, portanto, digo tudo, faço estas revistas muito atrevidas, não dependo de ninguém, não tenho censuras. O homem dá um passo em frente e sete atrás, mas é a época em que vivemos e não há milagre mais maravilhoso do que estarmos vivos. O milagre da vida. É esse o grande poder que temos: viver o milagre da vida.
Considera que tem uma missão social e também recreativa?
Claro. O teatro é uma arte social, o teatro devia ser dado nas escolas. Trabalho muito com crianças e são sempre grandes atores. A criança ultrapassa o espelho como a Alice no país das maravilhas. Depois, quando cresce, fecha-se em si própria. E a vida não é para nos fecharmos. Morremos e o Sol continua a nascer todos os dias. Como dizia o Nietzsche, o artista tem sempre a noção da tragédia, do que é a vida e da impunidade do que é estar vivo. É um milagre e, ao mesmo tempo, uma coisa extremamente frágil.
Sente borboletas na barriga nas estreias?
Não, já tenho 60 anos de teatro.
E vai fazer 80 anos...
Sim, mas não pareço nada, estou aqui um jovem.
O que vê quando se olha ao espelho?
Não sou muito narcisista, não sou muito de olhar ao espelho, nunca fui uma pessoa que vivesse para mim próprio, vivi sempre para os outros. Lembro-me que era criança e adorava ouvir as histórias dos outros, adorava ver e analisar e perceber o ser humano, como dizia o Camões, este “bicho da terra tão pequeno”. Tão pequeno. Não temos essa noção de que pouco ou nada valemos. Tudo se esquece. A Eunice Muñoz morreu há um ano, já ninguém fala. Esta sociedade hiperinformada que temos também é um breve momento.
O que resiste em si do miúdo que fazia teatros no quintal da avó e em cima da mesa da cozinha, que fazia palcos em caixas de sapatos e bonecos com papel de jornal?
Tudo. Sou uma criança deslumbrada perante a vida. Vou fazer 80 anos e é uma coisa que não me cabe na cabeça, como é que já vivi tanto e, ao final, tão pouco porque o tempo é uma coisa que passa tão depressa dentro de nós que é quase aflitivo pensarmos que somos octogenários, palavra tão solene, tão respeitada. Sou essa criança que se deslumbrou ao ver teatro e achou que era a sua vida. E aqui continuo. Sou um homem de teatro.
Herdou a megalomania do seu pai e a ironia e o humor da mãe.
O meu pai era um proprietário alentejano que via a vida em grande, ao contrário dos portugueses que veem tudo em pequeno. O que tem sempre um grande risco. Também tenho essa ironia, e essa impunidade de achar que tudo é efémero, da minha mãe. Tudo o que é trágico dá vontade de sorrir. Portanto, a arte dos contrastes sempre me fascinou.
E ficou fascinado quando deixou a aldeia no Alentejo para vir para Lisboa, a cidade grande?
Era muito novinho. Fiz a instrução primária no Alentejo, era de uma família grande, éramos seis irmãos, há uma irmã que morre, e eu vou viver com uma tia-avó para a Aldeia Nova. Vim para Lisboa muito cedo. Era uma cidade que eu achava que era, ela própria, um cenário de teatro.
No início dos anos 1970, foi para Londres estudar e fazer teatro, lavou pratos e serviu às mesas. Como foi?
Fiz tudo. A vida era caríssima, era difícil uma pessoa estar sozinha em Londres e sobreviver, a bolsa que tinha da Fundação Gulbenkian era muito pequenina. E eu gostava muito de servir.
Pensava não voltar. Porque regressou?
Um dia, estava a servir à mesa e vi um vulto, era o Carlos Avilez que estava a bater no vidro, tinha uma mensagem urgente para mim. Eu tinha de voltar porque o Mário Viegas tinha sido preso e ele ia, dentro de dias, estrear em Paris “Ivone, princesa de Borgonha”. E assim foi. Carlos Avilez era um homem extraordinário, um grande mestre, uma pessoa fascinante. E eu voltei para o meu país. Depois, foi o 25 de Abril. Foi uma grande caminhada.
Estava em Portugal no 25 de Abril?
Estava e vim para a rua. 51 anos depois do 25 de Abril, todos nós sonhamos com um outro país, todos nós quisemos um outro 25 de Abril. Hoje há muita desilusão, mas ainda bem que houve o 25 de Abril e ainda bem que vivemos numa democracia, era impossível viver de outra maneira. Devemos tudo ao 25 de Abril, a essa reviravolta, a essa revolução que houve em Portugal.
A cultura continua a ser maltratada?
O 25 de Abril ainda não chegou à cultura. Agora nestes diálogos, monólogos que a gente vê na televisão, a insultarem-se uns aos outros, ninguém fala em cultura. Não há um da Direita, da Esquerda, não há a mínima referência à cultura. Vemos até que as pessoas que estão a falar são pouco cultas, dizem os verbos todos ao contrário, dizem tudo no presente. Já reparou?
Não conjugam os verbos no tempo certo?
Não conjugam os verbos no tempo certo. Vê-se que a cultura está muito afastada dos seus horizontes.
Já se resignou a esse estado da arte?
Não. Se não, estava no Alentejo, lá no monte, a cavar batatas. É por isso que estou aqui todos os dias a lutar.
É um resistente?
Mais do que um resistente, sou um guerreiro.
Transformar este cinema num teatro exigiu-lhe uma dose de coragem e outra de loucura?
Cinema pornográfico, ainda não havia telemóveis. Com o advento dos vídeos, que também já não se usam, fecharam estes cinemas. Agarrei neste cinema e transformei-o no Teatro Politeama. Muita coragem, sim. Tenho de matar um leão todos os dias porque é um país impossível de burocracia, impossível de impostos, tudo leva a querer desistir. É preciso uma grande coragem e uma grande chama dentro de nós para vencer tantas batalhas e tantas lutas.
Conseguir viver sem apoios é um ato de resistência?
É um ato de loucura. Se não tivéssemos subsídios, mas tivéssemos uma compensação nos impostos… O que pagamos de impostos é uma coisa pornográfica, uma coisa horrível. Ter uma empresa foi uma coisa detestada após o 25 de Abril. Os empresários também são uns lutadores, uns guerreiros. Confundem muito, dizem o país de ricos, mas ricos há muito poucos em Portugal. Ficaram ricos os merceeiros, os futebolistas, e as famílias continuam as mesmas.
Os ricos mais ricos, os pobres mais pobres?
Exato. Há essa enorme desilusão de que eu falava.
Como é o seu método de trabalho?
Trabalhar dia e noite. E descobrir. Cada peça é sempre uma enorme aventura. Temos um processo de muita investigação quando são espetáculos como, por exemplo, “Fátima”. A revista é mais um olhar sobre a atualidade e o sorrir do drama que é ser português. O Almada Negreiros, conheci-o bem, dizia uma frase muito interessante: só nos livramos de ser portugueses, quando morremos.
Prefere trabalhar no silêncio, no ruído, como é o ambiente à sua volta?
Trabalho no escritório com pessoas a interromperem-me, com barulho, com tudo. Mas depois tenho muitos momentos de reflexão porque o teatro também é uma arte para refletir. Temos de escrever, fazer música, fazer um cenário, fazer um figurino. É o produto de um trabalho de investigação, de reflexão, de não acertar, de insistência, de resiliência muito grande.
É perfecionista?
Muito, muito.
Ralha muito nos ensaios?
Ralho às vezes.
Mau feitio?
Insuportável. Os atores têm de ter um grande amor ao que fazem para trabalharem comigo porque isto é uma escola, ao fim ao cabo. Cada espetáculo é uma escola. Temos coreógrafos, professores de canto, de ginástica, de dança. Cada espetáculo é uma aventura e uma escola. Quando vou ao Porto, faço sempre audições para os espetáculos, “Laura” foi com a maior parte de atores do Porto, a primeira revista no Rivoli também. Nasceu uma geração de atores que hoje são primeiras figuras do nosso teatro. O artista no Porto tem uma grande tragédia, tem muito boas escolas, mas depois não há mercado. Tem de fugir para Lisboa ou ir para o estrangeiro. Quantos e quantos artistas, bons atores e bons bailarinos, estão nas caixas dos supermercados? Isto é muito trágico e depois dizem “ai a juventude está a emigrar”, é verdade, se fosse jovem também emigrava. Uma pessoa que dá seis anos da sua vida, ou mais, a saber uma profissão, com sacrifício dos pais, e depois não tem trabalho e vai para o supermercado. É o país dos merceeiros.
Não há mercado?
Não há mercado. No Porto, não há teatros e o Rui Moreira acabou com tudo. O Rivoli é performances, o São João é um teatro elitista, cumprem um pouco a sua função. Mas os atores do Porto ou vêm para Lisboa para as telenovelas ou para a minha companhia ou criam as suas próprias companhias em Lisboa porque no Porto é quase impossível.
O teatro não pode ser elitista?
O teatro nunca pode ser elitista.
Demonstra-o com o seu trabalho?
Exatamente. O Shakespeare nunca foi elitista, nem o Molière, que era um saltimbanco, andava a fazer as suas comédias de aldeia em aldeia. Quando o teatro se fazia para os reis é que era elitista, hoje vale muito pouco. O teatro é uma arte de dádiva, que não se pode fazer a olhar só para o umbigo – e olha-se muito para o próprio umbigo. O teatro é uma arte tremendamente humana, corpo com corpo, olhos com olhos, boca com boca. É como um ato de amor.
Faz questão de receber o público à entrada, que vem de longe, que vem de camioneta ver as suas peças. Um ato generoso?
É o reconhecimento. Vem uma excursão de Viana do Castelo, vem uma excursão de Trás-os-Montes, veem-me e gostam. Estou ali a receber e a perguntar “de onde é que a senhora vem? Ai é? E o que faz, e não sei quê, e o seu marido?” O teatro é uma arte de toque, temos de tocar na alma das pessoas, quer numa revista, quer numa peça mais puxada, quer a passar uma noite a rir e a ouvir música, cantar canções. É uma arte de afeto.
O que é que o irrita profundamente?
A incompetência e a preguiça. Acho que o povo português é um bocado preguiçoso e muito mole. Sou alentejano, mas como sou de uma família espanhola, tenho uma energia diferente, um salero diferente. O português arrasta muito os pés e é por isso também que chegamos a estas situações.
E o que o deixa verdadeiramente feliz?
Um bom espetáculo, uma boa noite de teatro, uma boa viagem, estar com os meus netos e com a minha filha.
Vive o momento, o aqui e o agora?
O que temos é o aqui e o agora. O passado já foi, o futuro a gente não conhece, portanto, só temos o presente. A vida é o presente.
É um homem teimoso?
Uma coisa doentia de teimosia. Então, se não fosse teimoso como é que um alentejano, que vem lá de uma terra ao pé de Espanha, consegue este teatro, consegue fazer espetáculos que vão ficar para sempre na memória do teatro português? Só com uma grande teimosia, só com um grande mau feitio.
O Alentejo é o seu refúgio?
Sim, tenho lá um montezinho.
É para lá que vai descansar?
Sim, e andar de bicicleta, que é uma coisa que gosto muito.
E nadar?
E nadar.
Se não fosse um homem do teatro, seria escritor?
Sim, mas sou muito ansioso, quer dizer, escrever um livro e depois não concretizá-lo. Gosto de escrever, aliás, sou escritor, as peças são minhas, mas gosto de materializar tudo. Gosto de começar numa pasta branca e depois materializar tudo com outras pessoas – lá está, com esse afeto que dou aos atores, aos técnicos – para dentro do meu sonho caber mais gente.
Acredita no destino?
Não sei. Ainda estamos num estado muito primário, o ser humano é um ser primário. Agora estou apaixonado pela inteligência artificial, mas aquilo prova que tudo é previsível, o nosso cérebro é muito previsível. Vivemos muito próximo da Idade Média, mas ainda bem que não vivemos nessa altura porque já tinha morrido numa fogueira.
É um homem de fé?
Sou, mas também sou de dúvida. A fé é essa luta entre as certezas e as dúvidas.
Acredita em Deus?
Acredito. Acredito que o homem sabe muito pouco. Se me disser que as religiões são metáforas, acho que sim, porque a nossa inteligência, o nosso cérebro, não têm a dimensão para perceber o que nos rodeia. Sou um crente, sobretudo porque tive uma educação católica. A minha família era metade maçon e metade católica. O catolicismo teve uma grande influência em mim, por isso, me apaixonei tanto por esta história de Fátima. Sei o que é viver numa aldeia, sei o que é viver muito longe desta realidade das cidades, o que é o transcendente do real. Quando somos crianças, vemos esse mundo invisível que nos rodeia. É mais fácil. Depois a vida leva-nos à alienação do que é muito simples em nós.
Nessa aldeia, com a máquina de filmar do seu pai projetava cinema no quintal da sua avó. O teatro desde cedo, desde sempre?
Achei sempre que a vida era muito pequenina. Olhava para aqueles campos, para aquelas searas enormes, e não sabia se aquilo era real. O que é o real? Desde pequeno que tive essa interrogação, o que é, de facto, o real e o que é o mundo que imaginamos que está em nós. O ser humano é mágico, é fascinante. Temos um palácio na nossa cabeça, temos todo um universo, é preciso ter coragem para voar nesse universo, e o mais interessante da vida é perceber o outro. Mete-se tudo em gavetas, sempre me fez muita aflição isso dos rótulos, das gavetas, porque tudo tem um lado luminoso e um lado sombrio como o próprio dia tem.
Acha que a realidade, muitas vezes, é melhor do que a ficção?
Às vezes, não suporto a realidade. Isto é uma profissão de loucos, estamos aqui a fingir que somos outras pessoas porque não suportamos a realidade.
Os artistas nunca se reformam?
Isso, para mim, é uma coisa que não existe. Essas coisas das reformas matam um bocado as pessoas. Vejo pessoas que se reformam e duram muito pouco, ficam sem motivação de vida. Ter 65 anos, ir para casa ver televisão, estar num maple todo o dia. É um grande erro do nosso tempo, as pessoas ficam completamente perdidas.
De ator passou a dramaturgo e encenador.
Tive a grande sorte de conhecer pessoas extraordinárias, Palmira Bastos, Amélia Rey Colaço, os grandes nomes do teatro português, os grandes atores, vi-os todos, tenho essa experiência e esse privilégio de poder ter assistido a talentos. Há uma grande indiferença. Por exemplo, o público anglo-saxónico ama. Lembro-me de ver o Laurence Olivier já muito velho, no palco, em que se notava as dificuldades da voz e até da própria memória, e o público vibrava. Aqui, não, uma pessoa passa, vê um ator, “ah, está muito velho, ah, não sei quê”. O povo português é muito fatalista, daí o fado. Fui muito amigo da Amália e a Amália morreu angustiadíssima. Depois da morte é que se fez, de facto, a lenda. E para isso contribuiu muito o musical que fiz, aliás, por pedido dela.
Tem alguma superstição no teatro?
Brinco um bocadinho com isso. Somos muitas pessoas ao mesmo tempo. Um ator, uma pessoa de teatro, tem esse dom quase esquizofrénico de ser muitas ao mesmo tempo. É um bocado pessoano.
Considera-se um homem influente?
Ai, não, odeio essa palavra. As redes sociais parecem-me um circo. Vê-se bem a falta de cultura que há no nosso país. Não me atrai nada esses mundos.
Que lugar têm as distinções que ganhou?
São compensadoras. É melhor ser reconhecido do que não ser reconhecido. Mas se me perguntar se tenho alguma mágoa, tenho, contra o Estado português que nunca me considerou, nunca tive subsídios. Sujeitam-me sempre à miséria, à indiferença. A nossa sociedade é completamente indiferente aos artistas, não só no teatro, na literatura também – no Norte vocês têm génios como a Agustina Bessa-Luís ou o Mário Cláudio, mas se perguntarem no Porto quem é Mário Cláudio, não sabem.
O que anda a ler?
Leio quatro, cinco livros ao mesmo tempo. Agora estou apaixonado com o meu próximo grande espetáculo, oxalá tenha possibilidades económicas de o fazer. Não vou dizer o que é. Gostava de fazer um musical a partir de um romance que acho que é uma verdadeira obra-prima da humanidade.
Não pára. Dorme quantas horas?
Durmo muito bem, oito horas, às vezes até dez, porque sou uma pessoa em paz.