
Ilustração: Juan Díaz Holguín
A Fórmula 1 entra numa nova era. Após quatro títulos do leão Max Verstappen, Lando Norris inscreveu o nome na mais exclusiva lista de campeões do Mundo. O miúdo tímido de Bristol ganhou à maneira dele.
Quando, em 2017, assinou contrato com a equipa de desenvolvimento da McLaren, Lando Norris avisou ao que vinha. "Quero ajudar a equipa a voltar a conquistar títulos e, sim, o meu sonho é ser campeão do Mundo de Fórmula 1." Esse sonho, comum a todos os que passam a juventude a escalar a montanha com um dos cumes mais estreitos e difíceis de alcançar no desporto, muito raramente se torna uma realidade, mas o britânico, de 26 anos, contrariou as probabilidades e sagrou-se o 35.° piloto a alcançar o topo em 75 anos de história da F1.
Nascido em Bristol e criado em Glastonbury, o percurso de Lando Norris não fugiu completamente à regra, mas é, ao mesmo tempo, algo incomum. Em miúdo era tímido e gostava mais de ver MotoGP do que F1 ao ponto de manter, até hoje, Valentino Rossi como o grande ídolo e escolher o desenho dos capacetes que usa em honra do sete vezes campeão do Mundo da categoria rainha das duas rodas. Após experimentar o hipismo e o motociclismo, deixou-se encantar pelos karts à boleia do irmão mais velho, Oliver, que competia na categoria. Muito franzino, tinha de ser colado, com velcro, ao banco para evitar ser cuspido, mas o talento estava lá e não demorou a revelar-se. Com oito anos conquistou a "pole position" numa prova nacional britânica de karts, registo que é recorde até hoje na categoria de iniciação, e não voltou a travar.
Em 2013, então com 14 anos, sagrou-se o mais jovem campeão do Mundo de sempre nos karts, batendo o registo de um tal de Sir Lewis Hamilton, a que haveria de suceder para se tornar no 11.° inglês a conquistar o título na F1.
Bolsos fundos
No entanto, ao contrário do que aconteceu com o percurso de Hamilton, cuja família não era abastada e o pai teve de ter três empregos em simultâneo para o ajudar rumo aos sete títulos mundiais, o dinheiro nunca foi um problema na família Norris. O progenitor, Adam, foi um dos fundadores da Hangreaves Landsdown e fez fortuna como gestor de pensões, tendo sido considerado a 610.ª pessoa mais rica da Grã-Bretanha com uma fortuna estimada superior a 200 milhões de euros. Adam deixou, entretanto, a empresa e fundou a Pure Electric, que constrói trotinetas, enquanto acompanhava o filho no mundo dos monolugares.
O sucesso de Lando continuou na Fórmula 3, conquistando o título na época de estreia, mas os passos seguintes não tiveram direito a tanto champanhe. É verdade que venceu corridas na Fórmula 2 e lutou pelo campeonato, mas viu o troféu fugir para George Russell, atual piloto da Mercedes. Por essa altura, Lando já fazia parte do McLaren Junior Program e, após ser o piloto de reserva da equipa em 2018, a confiança de Zak Brown abriu-lhe as portas da Fórmula 1 no ano seguinte. Na grelha do Grande Circo aos 19 anos e ao serviço de uma das mais prestigiadas marcas, a história de encantar embateu, de frente, com a realidade.
A atravessar um dos piores períodos, a equipa de Woking não tinha um monolugar competitivo e da primeira temporada sobraram apenas alguns pontos e o 11.° lugar no campeonato. Fiel até hoje à marca, Norris festejou o primeiro pódio em 2020 e foi melhorando os números nos anos seguintes, com destaque para 2023, quando conseguiu sete presenças entre os três primeiros e um sexto lugar no campeonato. Mas ainda faltava algo.
Lando "Nowins"
As primeiras cinco temporadas não trouxeram a tão desejada vitória e a Internet reagiu com a voracidade habitual. Lando deixou de ser Norris para ser "Nowins" - "sem vitórias" -, um trocadilho que tornou ainda mais importante a luta pela saúde mental pela qual o piloto tinha de batalhar, como assumiu, sem tabus, desde que se estreou na F1, mantendo até hoje uma colaboração com a instituição britânica Mind.
"Comecei a ignorar as críticas e a brincar com elas. Isso ajuda ao sucesso", afirmou, a certa altura. O que também ajudou foi, claro, a evolução do McLaren. O Grande Prémio de Miami, de 2024, trouxe, finalmente, a primeira vitória da carreira na F1, que repetiria mais três vezes nessa temporada, passando a ser um dos grandes favoritos ao título de 2025. Teve de batalhar com o companheiro de equipa Oscar Piastri e de resistir à recuperação épica de Max Verstappen - esteve a 104 pontos da liderança e terminou a apenas dois -, mas Lando sagrou-se mesmo campeão do Mundo.
"Sou uma pessoa gentil, nunca fui muito competitivo. Venci à minha maneira, tentando não ser tão agressivo como Max, ou outros pilotos do passado. Acho que não vale tudo para ser campeão", disse o inglês após selar o título, celebrado, também, com um beijo à namorada portuguesa, Margarida Corceiro.
Lando Norris
Cargo Piloto de Fórmula 1
Nascimento 13/11/1999 (26 anos)
Nacionalidade Inglesa (Bristol)

