O Consultório de Sustentabilidade, por Joana Guerra Tadeu, ativista pela justiça climática e autora de "Ambientalista Imperfeita"
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"Gostava de aproveitar o regresso à rotina para adotar alguns hábitos mais sustentáveis. O que sugere?"
Beatriz Lemos
Parece-me uma excelente ideia tentar introduzir novos hábitos à boleia do regresso aos antigos. Por uma questão de eficácia, vale a pena lembrar que a maior fatia das emissões de gases com efeito de estufa (GEE) em Portugal vem dos transportes (30%) e que a alimentação representa quase um terço da pegada de carbono das famílias portuguesas.
Isto significa que, para reduzir o impacto ambiental do nosso dia a dia, devemos concentrar esforços em duas frentes principais: como nos deslocamos e o que comemos. E há formas práticas, criativas e coletivas de transformar essas rotinas comuns em ações com significado:
1. Transportes. A forma como nos deslocamos tem impacto direto na saúde, no ambiente e na carteira. Sempre que possível, deixe o carro em casa e opte por transportes públicos - é a escolha mais sustentável. Se a distância permitir, privilegie andar a pé ou de bicicleta: faz bem ao Planeta e ao corpo. E se for de carro, considere partilhar boleias. Cada lugar vazio é uma oportunidade perdida de reduzir emissões.
2. Refeições. Arranje uma garrafa reutilizável para evitar gastar recursos em garrafas de plástico. Se costuma beber chá ou café na escola ou no escritório, leve uma caneca para não usar descartáveis. Prepare marmitas com as sobras do jantar, alimentos sazonais e menos carne (ou nenhuma). Reduzir o consumo de produtos de origem animal é a ação individual com mais impacto na pegada ecológica. E evitar desperdício alimentar é a segunda!
3. Materiais. Antes de comprar novo, pergunte: já tenho algo que sirva este propósito? Reutilizar cadernos, pastas, canetas, lápis, estojos ou mochilas - ou comprar em segunda mão - é um gesto simples que evita a extração de recursos e a emissão de GEE. Se precisar mesmo de comprar, escolha produtos duradouros, reciclados e recicláveis. E não se esqueça de doar ou reciclar o que já não precisa.
4. Teletrabalho. Para quem tem essa possibilidade, o teletrabalho é uma excelente forma de reduzir deslocações e, por isso, emissões: pode reduzir a pegada de carbono individual em mais de metade se for total, e entre 11% e 29% na versão híbrida. Mas cuidado com o isolamento: manter a ligação aos colegas e ao espaço de trabalho é essencial para a saúde mental e a criação de sentido coletivo, que é aquilo de que mais precisamos para construir um futuro mais justo e sustentável.
5. Organização. Nenhuma marmita, bicicleta ou caderno reciclado substitui o poder de mudar sistemas. Junte-se (ou crie) a um grupo ambiental na escola, na associação de pais, no sindicato, na empresa. Organizem-se para pedir apoios ao transporte coletivo, cantinas com menos carne e desperdício, mais espaços verdes - e para contribuir para o desenho e implementação de políticas de sustentabilidade e justiça climática. Porque sozinhos podemos mudar hábitos. Mas juntos podemos mudar regras.
*A NM tem um espaço para questões dos leitores nas áreas de Direito, jardinagem, Saúde, finanças pessoais, sustentabilidade e sexualidade. As perguntas para o Consultório devem ser enviadas para o email magazine@noticiasmagazine.pt