Cresceu na comunista Checoslováquia, consolidou-se na separada Eslováquia, ganhou poder e fortuna na vizinha Chéquia. Foi agente secreto e adora jogar ténis. Acredita no poder do cosmos.
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Chamam-lhe o Donald Trump da Chéquia. Porque é multimilionário como ele, porque o admira, por ter estado envolvido em escândalos e negócios duvidosos, por pertencer a uma direita populista e extremista, por ter saído do poder em desgraça e o ter reconquistado poucos anos depois. Andrej Babis e o seu partido contrariaram as sondagens e venceram as eleições legislativas que se realizaram nos passados dias 3 e 4, com 35,8%. Foi o tapete verde para o regresso ao posto de primeiro-ministro do polémico homem que o ocupou entre 2017 e 2021.
"Sou trumpista. Quero gerir o Estado como uma empresa", repetiu Babis durante a campanha eleitoral, durante a qual levou uma bengalada de um cidadão que o atirou para o hospital com ferimentos na cabeça. Amigo e parceiro político do também controverso primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, imita-lhe a postura antieuropeísta, a repulsa por imigrantes, a preferência pela aproximação à Rússia e a Vladimir Putin, a dificuldade em apoiar o envio de armas para a Ucrânia. Mas garante que não pretende retirar a Chéquia da União Europeia nem se opõe à presença na NATO. "Lidera ao seu próprio estilo e personifica aquilo que é o populismo checo", resumiu a televisão alemã DW.
Está à frente do partido ANO (que significa "sim" em checo e é o acrónimo de Akce Nespokojených Občanů - Ação de Cidadãos Insatisfeitos), que ajudou a fundar e que ficou em segundo lugar logo nas primeiras eleições a que concorreu para o Parlamento da Chéquia, em 2011, acabando como parceiro de Governo do CSSD (social-democrata de centro-esquerda). Nas seguintes, venceu e encabeçou o Executivo, numa coligação que, além do CSSD, teve o apoio parlamentar do Partido Comunista.
Babis foi acusado de fraudes com subsídios europeus no valor de dois milhões de euros e suspeito de lavar 18 milhões de euros em paraísos fiscais. A "Forbes" avaliou a sua fortuna em 4,3 biliões de dólares (3,7 mil milhões de euros), a maior da Chéquia. O pico da riqueza, notou a mesma Forbes, conseguiu-o em 2018, apenas um ano após a estreia como líder do Governo.
Dono do Agrofert, aglomerado que junta mais de 200 empresas que vão desde a agricultura a órgãos de comunicação social, foi deixando aos poucos a gestão do grupo quando começou a pensar a sério sobre uma carreira política. Em 2017, antes de concorrer a legislativas, que viria a ganhar, foi obrigado pelas autoridades checas a abandonar de vez a Agrofert e a dividi-la em fundos fiduciários. A administração passou então para Monika, a ex-mulher e mãe de dois dos seus quatro filhos, de quem se separou o ano passado.
Nascido em Bratislava, na Eslováquia, que então formava com o que é hoje a Chéquia a una Checoslováquia, cresceu debaixo do domínio comunista do país. Bem posicionado no regime, o pai trabalhou em Genebra junto da missão permanente da ONU, período em que o jovem Andrej Babis estudou naquela cidade suíça. De regresso a Bratislava, formou-se em Economia e garantiu emprego numa empresa estatal ligada ao setor dos combustíveis. Vendedor em Marrocos e noutros países árabes, foi dessa altura, em meados da década de 1980, que surgiram suspeitas de que faria trabalho de espionagem com o nome de código Bures. "Marrocos era dos poucos países árabes onde os soviéticos tinham influência. É possível que tenha sido indicado para consolidar isso", escreveu a revista checa "Respekt". "Nunca cooperei com a polícia secreta. Pelo contrário, fui interrogado em 1982 devido à minha recusa em comprar fosfatos de baixa qualidade na Síria", negou.
Com o derrube do regime através da pacífica Revolução de Veludo, no final de 1989, começou o caminho do enriquecimento para Babis. Em 1991, após a dissolução da Checoslováquia, estabeleceu uma influente rede de contactos e mudou-se para Praga, capital da Chéquia, a partir de onde multiplicou a atividade empresarial e a conta bancária.
Apesar de ainda passar longas temporadas em Bratislava, vive numa luxuosa mansão em Pruhonice, uma das zonas mais nobres (e caras) de Praga. Adora jogar ténis e fundou o seu próprio clube, o Slavia Agrofert. No plano espiritual, garante não ter religião e gostar apenas do... cosmos.
O gosto pelo poder também o levou a tentar ser presidente da República. Quase conseguiu o objetivo. Em 2022, concorreu, passou à segunda volta e perdeu para Petr Pavel, um general na reserva. Será agora primeiro-ministro pela segunda vez. "O culminar da minha carreira política", conforme garantiu à Agência France Press.
Cargo
Primeiro-ministro da Chéquia
Nascimento
02/09/1954 (71 anos)
Nacionalidade
Checa (Bratislava, Eslováquia)
[Perfil é uma rubrica semanal da Notícias Magazine]