O objeto escolhido pela trompetista e cantora.
Corpo do artigo
“O trompete, por mais óbvio que possa parecer. Na verdade, não há mais nenhum objeto com o qual tenha criado uma ligação tão forte, quase como se fosse um filho. Tenho-o sempre ao pé de mim, faço questão de saber se fica bem quando vou à casa de banho, que não o abandono. Se alguém segura nele, fico aflita, com medo que o deixe cair, como um recém-nascido que se pega pelas primeiras vezes.
Comecei a aprender a tocar trompete quando tinha oito anos na Calceteira, uma das filarmónicas de Alcácer do Sal. Não tinha qualquer ligação a esse instrumento e foi uma relação muito automática, muito especial. Tirei som à primeira, o que não é muito normal de acontecer. Costumo dizer que foi o trompete que me escolheu, não fui eu que o escolhi. E criei uma ligação tão forte a esse instrumento, que era cedido pela filarmónica, que acabei por comprá-lo. Depois, fui evoluindo. O trompete tem essa particularidade, o de nunca ter um fim, de nunca chegar a uma meta, de nos colocar sempre num processo de aprendizagem. Desde que comecei a aprender a tocar, tornou-se quase uma extensão do meu corpo. Se não estiver por perto, sinto falta. É um instrumento que se molda a nós com o passar do tempo.”
Jéssica Pina
Trompetista, cantora
32 anos