Massificou-se nos últimos anos e tornou-se num dos setores mais dinâmicos da economia global. Mas os impactos no ambiente são evidentes. Os voos representam o maior dano, só que há muitos outros problemas: o lixo gerado, o consumo de recursos locais, a sobrecarga de cidades, a construção desenfreada de hotéis na orla costeira. E não há sinais de abrandamento.
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Estávamos em 2018 quando Maya Bay, que se tornou célebre por ter servido de cenário ao filme de 1999 "A Praia", protagonizado por Leonardo DiCaprio, foi encerrada ao público. A riqueza natural e a diversidade da paradisíaca baía tailandesa, de areia branca e águas cristalinas, foi ameaçada pela pressão turística. Só voltaria a reabrir em 2022, já os corais danificados haviam recuperado e a vida marinha tinha voltado a prosperar. Este ano, está novamente encerrada desde o início de agosto e até finais de setembro, para que o habitat recupere do fluxo de turistas. A Tailândia é um dos casos mais evidentes dos efeitos do turismo de massas no ambiente. Mas os exemplos de sobreturismo (e os seus impactos no planeta) multiplicam-se, um pouco por todo o Mundo. Olhemos para Hallstatt, aldeia austríaca à beira-lago, que terá inspirado o filme "Frozen", da Disney, e que muito tem sofrido com a overdose de turistas. Tem uma população de cerca de 800 pessoas e recebe dez mil visitantes por dia, um aumento demográfico superior a 1000%, o que é revelador.
O crescimento massificado do turismo nos últimos anos fez com que este se tornasse num dos setores mais dinâmicos da economia mundial. Porém, no entretanto, o planeta sofre as sequelas, principalmente no que diz respeito às emissões de dióxido de carbono (CO2) associadas às viagens. "O transporte é o que tem maior impacto. A aviação e os cruzeiros, que são autênticas cidades flutuantes, são dois bons exemplos e sobretudo os voos não param de crescer", sublinha Francisco Ferreira, presidente da associação Zero. As deslocações são maiores e mais frequentes e o avião é o meio de transporte preferido pelos turistas. Segundo a ONU Turismo, espera-se que as emissões de carbono relacionadas com os transportes turísticos registem um aumento de 25% em 2030, face aos valores de 2016. Mas não é preciso avançarmos no tempo para tomar o pulso às consequências. Hélder Silva Lopes, professor no Departamento de Geografia da Universidade do Minho e investigador na área das alterações climáticas, lembra que o transporte aéreo, que cresceu mais rápido do que outros meios de transporte entre 2000 e 2019, já representa quase 3% das emissões globais, "o que embora pareça pouco, é bastante".