Consultório de Sexualidade, por Mafalda Cruz, radioncologista e sexóloga
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Tenho dois filhos, uma menina de 6 e um rapaz de 11 anos. Quando e como é que devo falar com eles sobre sexualidade?
Pedro Ferreira
Falar sobre sexualidade com os filhos ainda assusta muito os pais. Uns têm medo de dizer “demasiado”, outros acham que “ainda é cedo”. Mas o silêncio nunca protegeu ninguém. E quando não falamos, outros falam por nós: os colegas, os vídeos, a Internet.
Educar para a sexualidade não é incentivar comportamentos precoces – é dar ferramentas para que as crianças e adolescentes cresçam com informação, segurança e autonomia. Para que façam escolhas conscientes, e não baseadas em vergonha, pressão ou medo.
As conversas sobre sexualidade devem existir desde cedo, e os temas devem adequar-se à idade e capacidade de compreensão.
Entre os dois e os cinco anos, a educação sexual é essencialmente educação para o corpo. É o momento para ensinar os nomes corretos dos genitais, explicar o que é privado e reforçar que o corpo é deles – e que ninguém pode tocá-lo sem o seu consentimento.
Dos seis aos nove anos, surgem perguntas mais diretas, que devem ser respondidas sem rodeios. Falamos de respeito, privacidade, limites e consentimento. Também é o momento certo para preparar para possíveis exposições a conteúdos inapropriados e para reforçar que podem sempre tirar dúvidas com um adulto de confiança – sem medo.
Dos dez aos 12 anos, chega a puberdade. Nesta fase surgem as mudanças físicas, as emoções novas, a descoberta da identidade de género e da diversidade sexual. Tudo isto precisa de ser acompanhado com empatia e informação clara. É essencial mostrar que não há um “normal” e que o mais importante é sentirem-se bem consigo próprios.
A partir dos 13 anos, falamos abertamente sobre sexo, prazer, relações afetivas, contraceção, pornografia. Mostramos que sexo deve ser consensual, desejado por ambas as partes, vivido com respeito e cuidado. E que o que se vê online nem sempre representa a realidade – nem o verdadeiro prazer.
É preciso alguma coragem para enfrentarmos estes temas com os nossos filhos. Mas, mais do que um ato de coragem, é um ato de cuidado, de prevenção e de educação para a cidadania.