Frequentou um mosteiro beneditino, defende valores tradicionais e joga bem nos bastidores. Cumprimenta as pessoas com uma ligeira cabeçada. É um dos mais jovens líderes de governo em França.
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Com apenas 39 anos, o currículo político de Sébastien Lecornu assemelha-se ao de um veterano, tantas foram as tarefas que desempenhou em apenas duas décadas. Assessor parlamentar com apenas 19 anos, foi nomeado conselheiro do Ministério da Agricultura com 22 e com 27 acabou eleito presidente da Câmara Municipal de Vernon. Com 28, passou a liderar o Conselho Departamental do Euro, com 31 tomou posse como secretário de Estado da Transição Ecológica e Inclusiva, com 32 foi apontado ministro das Autoridades Locais e com 34 elevado a ministro do Exterior (responsável pelos territórios ultramarinos). Com 36, tornou-se o mais novo ministro da Defesa da história francesa.
"É um sobrevivente", assim o definiu o site "Politico". A apreciação tem razão de ser. Lecornu foi o único a integrar todos os governos desde que Emmanuel Macron, de quem é bastante próximo, assumiu a presidência da República, em 2017. Trabalhou com os primeiros-ministros Édouard Phillipe, Jean Castex, Élisabeth Borne, Gabriel Attal, Michel Barnier e François Bayrou. Agora, é ele mesmo o líder do Executivo, o terceiro mais jovem de sempre, apenas superado por Attal e Laurent Fabius, este na década de 1980. Ainda segundo o Politico, companheiros e adversários apontam-no como alguém "incrivelmente habilidoso", que nunca demonstra o seu lado mais fraco, procura sempre manter uma postura discreta e consegue atuar na sombra com um surpreendente jogo de cintura, capaz de o levar, por exemplo, a organizar jantares secretos quer com Macron, quer com Marine Le Pen, rosto da extrema-direita francesa e da oposição ao presidente.
Tido como uma mistura equilibrada de gaulista e liberal, o site "Mediapart" apelidou-o de "barão provinciano que personifica uma direita paternalista e à moda antiga". Mantém um claro lado conservador, visível na oposição clara a temas como o casamento entre pessoas do mesmo género ou a procriação medicamente assistida.
As primeiras palavras como primeiro-ministro dedicou-as a um povo cansado de instabilidade e da crise financeira, que convive com o quarto Governo em pouco mais do que um ano. "Existe um caminho possível e poremos fim a esta dupla discrepância entre a situação política e o que os nossos concidadãos legitimamente esperam no seu quotidiano", garantiu, citado pelo jornal "Le Figaro". Uma das primeiras medidas que anunciou foi o corte dos benefícios vitalícios a atuais e ex-políticos. "Não podemos pedir aos franceses que façam esforços se aqueles que estão à frente do Estado não os fizerem. A reforma não é sempre para os outros, isso cria desconfiança", referiu. Decidiu ainda abolir o polémico fim de alguns feriados, decidido pelo antecessor.
Se a vida pública de Sébastien Lecornu é por demais conhecida, o seu lado privado prima pelo mistério. Sabe-se que gosta de passar fins de semana numa casa da Normandia, mas pouco se sabe com quem. Apenas caça, e que talvez por isso tenha reduzido o valor da taxa de caçador quando foi secretário de Estado da Transição Ecológica e Inclusiva.
Filho único de um técnico aeronáutico e de uma secretária de consultório médico, um avô republicano que pertenceu à Resistência Francesa durante a II Guerra Mundial foi a sua primeira grande inspiração política e quem o fez apaixonar-se por tudo o que é relacionado com a vida militar. Católico fervoroso, andou numa escola religiosa e chegou a frequentar o mosteiro beneditino de Saint-Wandrille, fundado no ano de 649,em Caudabec-en-Caux, onde ponderou levar a diante uma vida de frade sujeita a votos de pobreza, castidade e obediência. "Não gosto de falar sobre isso, mas é verdade. Aconteceu durante um período muito íntimo da minha adolescência", revelou ao programa televisivo "Quelle Époque", da France 2. Ficou-lhe desses tempos, lembrou o jornal "Le Monde", o hábito de cumprimentar homens e mulheres com uma ligeira cabeçada, exatamente como fazem os monges de Saint-Wandrille.
Também por essa altura, tinha 16 anos, iniciou a militância política ao aderir ao partido União para um Movimento Popular (UMP), de centro-direita e entretanto extinto. Era liderado pelo então futuro presidente da República Nicolas Sarkozy, atualmente a cumprir pena de um ano de prisão domiciliária com pulseira eletrónica - e outros dois de pena suspensa - por corrupção, quem Sébastien Lecorcnu visitou dias depois de tomar posse como primeiro-ministro.
Licenciado em Direito, viria a aproximar-se de Macron, que o nomeou primeiro-ministro.
Cargo
Primeiro-ministro de França
Nascimento
11/06/1986 (39 anos)
Nacionalidade
Francesa (Eaubonne)
[Perfil é uma rubrica semanal da Notícias Magazine]