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Já muito se escreveu e disse sobre o caso das gémeas tratadas em Portugal. A ida da mãe à comissão parlamentar foi esmiuçada até ao último pormenor, a recusa, que afinal não o foi, do filho do presidente da República de ir à mesma comissão foi analisada por todos os comentadores e a avaliação da eventual culpa de algum dos governantes seguiu todos os caminhos possíveis… A par do papel da Justiça, a intervenção parlamentar através de uma comissão de inquérito tem a obrigação de ajudar a esclarecer o papel e a responsabilidade dos intervenientes. Mas será que é isso que vai, de facto, acontecer?
Quando a ação da Justiça suscita junto dos cidadãos tantas dúvidas e alimenta polémicas, as comissões parlamentares não são muito diferentes. É inevitável que o peso dos vários partidos na composição das comissões parlamentares de inquérito tenha influência nas conclusões finais, o que já não parece tão aceitável é que essas conclusões sejam de tal forma partidarizadas que se limitam a ser armas de arremesso político e assumam pouca ou nenhuma credibilidade junto dos cidadãos.
Quando tantos falam na necessidade de credibilizar a política e os políticos, esta é mais uma oportunidade que passa ao lado sem que ninguém a consiga aproveitar. Para isso, talvez bastasse um trabalho mais consciente, que resultasse em conclusões esclarecedoras e cuja credibilidade não estivesse minada pelos interesses partidários eleitorais.
No caso das gémeas, seria interessante chegarmos ao final dos trabalhos da comissão parlamentar e, simplesmente, sermos capazes de saber se, independentemente de legalidades ou ilegalidades, houve intervenção política e influência externa algures no decurso do processo e, sobretudo, se alguém teve tratamento diferente ou ficou sem acesso a tratamento. Mais do que encontrar alvos políticos, esse é que seria um verdadeiro trabalho em prol da democracia.