Corpo do artigo
Os juros dos empréstimos à habitação estão a atingir valores recorde. O preço dos combustíveis segue o mesmo caminho. O material escolar encareceu 14% num ano. A inflação continua elevada. Perante este cenário, assim resumido de forma simplista, os bancos centrais da Europa fazem um apelo “à capacidade de poupanças preexistentes e a um ajustamento à forma como nas famílias se gere o orçamento”.
As palavras são de Mário Centeno, o antigo ministro das Finanças que um dia nos deu esperança ao afirmar que havia outra solução que não o apertar do cinto imposto pela troika, foram publicadas ontem numa entrevista a um jornal espanhol e soam estranhas.
O responsável do banco central português diz que o emprego está bem na Europa e por isso os cidadãos terão que se aguentar com a subida dos juros, usando as suas poupanças ou gerindo melhor o seu dinheiro. É mais ou menos a mesma história que ouvimos há alguns anos da fundadora do Banco Alimentar: os pobres têm uma “tendência natural para gastar o dinheiro malgasto” e “se não temos dinheiro para comer bifes todos os dias, não podemos comer bifes todos os dias”.
Mário Centeno, que se deixou fotografar com um ar triunfante na porta de um gigantesco cofre do Banco de Portugal, parece ter perdido aquilo que um dia lhe deu um rosto humano: a proximidade aos portugueses e às suas necessidades. Circunstância bem visível quando tenta explicar que os bancos precisam dos lucros para fazer face a incumprimentos futuros resultantes das medidas agora em vigor!
O que os dirigentes dos bancos centrais dizem, caucionados por essa figura estranha da economia mundial chamada Christine Lagarde, até pode fazer sentido entre os especialistas em macroeconomia, mas para os cidadãos comuns algo está mal explicado.
Afinal, podemos salvar bancos de forma a que possam continuar a acumular lucros recorde, mas os cidadãos têm que aprender a gerir melhor os seus orçamentos e a viver com o que têm...
*Editor-executivo-adjunto