A responsabilidade social
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Neste tempo de incerteza complexa, em que as decisões de gestão dos negócios são confrontadas com crescentes novos desafios, a responsabilidade social voltou a ganhar uma nova importância. Ganha assim terreno a ideia de que o valor transacionável gerado no mercado deverá ser partilhado de forma adequada e justa pela sociedade, de modo a garantir mecanismos de resposta às necessidades crescentes de segmentos da população sem alternativas de rendimento. O valor partilhado é assim o compromisso de afirmação da responsabilidade social por parte das organizações num mundo global com crescentes exigências e em que o princípio da equidade ganhou uma nova importância.
O Estado e as empresas têm hoje uma responsabilidade social acrescida e mais exigente. A gestão de expectativas é hoje fundamental e quando se começaram a agudizar os sinais de falta de controlo na gestão operacional das contas públicas criou-se o imperativo da necessidade da intervenção. O Estado assumiu a condução do processo, para evitar a contaminação do sistema e a geração de riscos sistémicos com consequências incontroláveis, mas as dúvidas mantiveram-se em muitos quanto à existência de soluções alternativas mais condicentes com o funcionamento das regras do mercado. A responsabilidade social implica hoje um novo contrato de confiança entre os diferentes atores económicos e sociais e só com uma verdadeira mobilização e participação se conseguirão resultados concretos.
Esta parte final do ano vai ser particularmente relevante para Portugal. Está em cima da mesa, no contexto da situação pós-pandemia e dos efeitos da guerra, a capacidade de o nosso país conseguir efetivamente apresentar um modelo de desenvolvimento estratégico sustentado para o futuro. Da mesma forma que a União Europeia está confrontada com novos desafios para assumir a inevitabilidade do seu processo de reinvenção estratégica, também em Portugal sinais inequívocos de mudança têm de ser dados. Em tempo de crise, os casos recentes que vieram a lume vieram uma vez mais demonstrar que existe no nosso país uma “minoria silenciosa” que de há anos a esta parte mantém o status quo do sistema paralisado e a pretexto de falsas dinâmicas de renovação social e reconversão económica tenta reencontrar o caminho do futuro com as mesmas soluções do passado impensáveis num contexto de mudança como aquele que vivemos.