Acesso 2025: um modelo que exclui, um país que perde!
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Foram divulgados, neste fim de semana, os resultados da 1.ª fase do Concurso Nacional de Acesso e confirmou-se o que já se previa: uma redução abrupta no número de colocados - menos 6064 -, um recorde negativo nas estatísticas do acesso.
Se analisarmos o número de colocados nos últimos 5 anos, verificamos que os valores se mantiveram estáveis, rondando os 50 mil colocados, quase imunes a fatores frequentemente apontados como importantes - indicadores socioeconómicos, taxa de desemprego ou custo do alojamento. Este ano, porém, registaram-se apenas 43 899 novos estudantes.
Os dados são inequívocos: a principal causa foi a alteração no modelo de acesso.
Durante estes anos o país vangloriava-se por temos conseguido a meta histórica de mais de metade dos nossos jovens com 20 anos frequentarem o Ensino Superior. Mas, de repente, tudo mudou. Não porque o país tenha mudado, mas apenas porque se mudou de ministro!
E porque é que o ministério coordenado por Elvira Fortunato decidiu alterar o regime de acesso? Não sei! Que estudos houve que sustentaram a necessidade de mudar um sistema que funcionava, estava estabilizado e era amplamente aceite? Desconheço! Pior, que análises fundamentaram a convicção de que as alterações introduzidas fossem as corretas e trouxessem benefícios? Apenas perceções!
Avisos sobre as consequências desta mudança não faltaram e que alertavam para uma quebra de cerca de 10 000 candidatos. Os resultados agora confirmam esses receios.
No Ministério havia a "crença" de que os alunos se adaptariam. Mas não se adaptaram - não por incapacidade, mas por desigualdade de meios. Quem nasce numa família com poucos recursos não estuda em colégios nem paga explicações, pelo que dificilmente se consegue adaptar. Foram esses os excluídos!
Para alguém que cresceu numa aldeia transmontana e que pôde estudar porque nasceu numa família com recursos, mas que partilhou a adolescência rodeado de amigos que nunca tiveram essa oportunidade, nada mais dececionante do que este resultado.
Um verdadeiro favor à extrema-direita: milhares de jovens deixados à margem, sem perspetivas de futuro e vulneráveis a narrativas populistas. É nesse terreno de frustração e abandono que o extremismo cresce.
Urge reverter este erro e restaurar o modelo que funcionou durante dezenas de anos. A responsabilidade está agora no ministro da Educação.
Esperemos que o faça - a bem dos portugueses, a bem da igualdade, a bem dos "rapazes" da minha aldeia!