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Beatriz vive entre a cama e a cadeira de rodas. Porém, aos 17 anos teve apenas direito a duas cadeiras e esta que utiliza agora é já pequena demais. Noutro caso, Bruno Pais, um engenheiro mecânico, construiu com as próprias mãos a solução para a filha Teresa porque mesmo uma cadeira manual custa seis mil euros e uma elétrica atinge valores que a família não consegue comportar.
Estes casos, noticiados recentemente, multiplicam-se após ser conhecido que duas gémeas luso-brasileiras, além da polémica sobre o tratamento que custou quatro milhões de euros, receberam cadeiras elétricas cujo valor atinge muitos milhares de euros e ainda se deram ao luxo de deixar outras por levantar no hospital.
A questão essencial na conjugação de todos estes casos não é se as duas gémeas tinham ou não direito a tratamento e sequer se houve alguma interferência indevida de titulares de órgãos públicos. A questão que fica bem a descoberto com os casos das cadeiras de rodas é que há, de facto, diferenças na forma como os utentes acedem às respostas que o Estado português disponibiliza.
A ex-ministra da Saúde Marta Temido disse claramente que as duas gémeas luso-brasileiras, enquanto cidadãs portuguesas, tinham direito a receber o tratamento. E se isso, só por si, é inquestionável, o que ressalta das fases seguintes do processo é que houve um acompanhamento invulgar destas duas crianças. Se assim não fosse, Bruno Pais não teria de construir a cadeira para a filha, nem Beatriz continuaria impedida de se deslocar na própria casa.
O Estado, seja a Segurança Social, seja o SNS, mas sobretudo quem dá a cara por essas instituições, deve assumir a vergonha que é ter cidadãos portugueses ignorados por serviços que se dão ao luxo de entregar equipamentos a quem não precisa.
Agora, resta-lhes apenas fazer aquilo que devem e rapidamente corrigirem estas situações sem se escudarem em procedimentos burocráticos cujo efeito é apenas enredar os cidadãos numa malha de complicações que os deixa sem apoio.