A Igreja portuguesa, ainda que tarde face a uma sucessão de ocorrências em vários países europeus, deu um bom passo ao entregar a análise dos casos de abuso a uma Comissão Independente. A triagem das acusações foi feita, o resultado foi divulgado publicamente e o caminho estava aberto para um momento verdadeiramente clarificador: a Igreja deixaria a Justiça seguir o seu rumo e, internamente, tomaria as decisões difíceis mas necessárias.
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Seria um processo feio mas no fim do qual uma instituição milenar que sempre construiu o seu próprio caminho poderia apresentar-se com um sinal de modernidade. A Igreja surgiria de cara levantada, capaz de olhar de frente quem a acusasse. Tudo teria sido feito para reparar o que ainda fosse possível reparar, garantindo e prevenindo que novos abusos não voltariam a acontecer e, acima de tudo, que não voltariam a ser ignorados pela hierarquia da própria Igreja.
Porém, as últimas palavras dos responsáveis católicos não abrem boas perspetivas. Primeiro, ao recusarem qualquer medida preventiva, depois ao deixarem nas mãos de cada diocese as decisões sobre os casos conhecidos, mesmo que, hierarquicamente, a elas possa competir essa ação.
Ninguém pode ser condenado sem provas ou apenas com base em relatos não verificados, mas isso não impede que a Igreja Católica tome medidas objetivas. Os membros da Comissão Independente são claros ao apontar que as paróquias e as dioceses sabem bem quem são os sacerdotes alvo de acusações.
O que não pode acontecer é a Igreja Católica achar que a sua intervenção neste assunto termina com a extinção da Comissão Independente e com o envio para o Ministério Público dos casos em que existam suspeitas de crime. Há mais a fazer e não é, claramente, construir monumentos em homenagem às vítimas.
*Editor-executivo-adjunto