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Há séculos que as instituições de Ensino Superior transmitem conhecimento com base em cursos e diplomas. Um curso é uma trajetória através do saber, pensada de forma a expor o estudante, de forma progressiva e organizada, ao conhecimento. O diploma que recebe ao concluir o percurso certifica a posse dos saberes associados. Para gerir a oferta de cursos criaram-se entidades a quem foi confiado o seu escrutínio e crítica. Compete-lhes a acreditação dos cursos, ou seja, a sua validação por um certo período de tempo.
O modelo funciona se as necessidades de formação não mudarem substancialmente durante o tempo necessário para concluir o curso, ou os diplomas tornar-se-iam rapidamente obsoletos. No passado, o diploma mantinha a sua atualidade durante toda uma vida. Hoje, algumas das empresas mais inovadoras já anunciaram que precisam de talentos e não diplomas.
Estas empresas criaram há muito centros de investigação próprios, que competem com as instituições de Ensino Superior no mercado global de talento. A necessidade de novos perfis profissionais pode levá-las a investir também em escolas próprias, levando à fragmentação e especialização do processo de criação e transmissão de conhecimento, com custos para todos.
As instituições de Ensino Superior podem procurar percursos formativos inovadores aproximando-se das empresas. Podem também reduzir a granularidade da oferta e validar unidades de formação de dimensão inferior ao curso. O diploma daria lugar a um "passaporte profissional", onde se anotariam as unidades de formação, possivelmente obtidas em diferentes países, instituições e fases da carreira do estudante-trabalhador.
Assegurada a indispensável formação de base, aliás menos volátil que a formação especializada, este modelo facilitaria a internacionalização, a formação ao longo da vida e a criação de percursos formativos flexíveis, em articulação com as empresas, sem custos excessivos para ninguém. Vale a pena considerar.
* REITOR DA UNIVERSIDADE DE AVEIRO