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Num momento politicamente agitado como o que se vive agora em Portugal, marcado sobretudo por posições extremadas, as vozes que tentam verter algum bom senso acabam muitas vezes por se perder no ruído da discussão ou ser mesmo vítimas desse ruído. Um texto de opinião da procuradora-geral-adjunta Maria José Fernandes, ontem, no “Público” merece ser “escutado” sem ser vítima desse ruído externo. Mais do que apontar o dedo a este ou àquele, de “criticar”, “arrasar” ou “denunciar”, teve o condão de nos fazer pensar sobre a forma como chegamos ao momento em que estamos e o papel que o Ministério Público possa ter tido nesse percurso.
É inevitável que cada um tire as suas conclusões sobre o que é escrito, concorde-se ou não, mas o que é válido é que uma voz do próprio Ministério Público mostra que há outras formas de trabalhar e, face ao que conhecemos hoje, passíveis de obter resultados mais sólidos ou, pelo menos, de chegar a esses resultados sem tanta agitação.
A opção por uma via em que a coordenação do trabalho do Ministério Público possa existir sem que isso signifique interferência é um dos aspetos relevantes abordados no texto de Maria José Fernandes.
Outro aspeto diz respeito à forma como o trabalho dos procuradores é visto pela opinião pública e pela Comunicação Social: “Quem se opõe à estridência processual é rotulado protetor dos corruptos! Neste enquadramento e sendo a nossa dimensão quase paroquial, poucos têm pulso para impor o que deve ser a sensatez, a escorreita interpretação jurídica dos factos, o respeito pelos direitos fundamentais dos cidadãos suspeitos, a investigação célere”.
Esta frase não é, não pode ser, entendida como uma oposição ao exercício do jornalismo livre e ético. Porque o jornalismo existe para informar, mas quando se deixa embarcar na estridência não está a fazer um bom trabalho, desde logo porque se sujeita a objetivos que estão longe de ser aqueles que pretende alcançar. Mesmo que, por vezes, pareçam ser os mesmos!