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A Polícia em Portugal enfrenta uma crise de autoridade - na verdade, uma crise de respeito ou de falta dele - na relação com os cidadãos.
Uma sociedade moderna e ciente dos seus valores (neles incluídos os direitos e deveres de cidadania) deve acumular um sentimento de vergonha coletiva quando vê os seus polícias (seja um agente da PSP, um guarda da GNR ou um agente de qualquer outra instituição) a ser desrespeitados, insultados e até agredidos. E essas imagens multiplicam-se devido à omnipresença dos telemóveis.
Um agente da Polícia não é apenas o nosso vizinho equipado de pistola e cassetete. Quando veste a farda e se equipa com os respetivos acessórios, passa a ser um representante do Estado e este, gostemos ou não, somos todos nós. E mal vai a sociedade que não se respeita a si própria.
Sim, há vários exemplos de más práticas dos agentes da autoridade. E claro que estes casos são muito mais depressa noticiados do que os muitíssimos mais exemplos de boa atuação.
Talvez porque durante as décadas de ditadura vivemos com um Estado que abusava do poder e os seus agentes eram um reflexo disso mesmo, vivemos agora num outro extremo. Achamos que todos, cidadãos e Estado, somos de alguma forma idênticos e estamos no mesmo patamar legal.
É agora, numa circunstância que se arrasta há demasiado tempo, que se espera uma intervenção mais efetiva do Estado: Governo e Assembleia da República têm de rapidamente encontrar um caminho que permita alcançar o equilíbrio indispensável. Um quadro legal que acabe de vez com agentes da autoridade que trabalham sem suporte e que nas horas difíceis parecem quase sempre ficar entregues a si próprios. Também é verdade que estes agentes da autoridade, num período que é obviamente negativo, têm de ser ainda mais exigentes consigo próprios, assumindo as responsabilidades do seu trabalho sem ceder um palmo que seja ao facilitismo e sem que as queixas sirvam de desculpa para abdicar do seu papel.
Não será possível ultrapassar as tormentas com alguém que nos momentos mais complicados cede às primeiras dificuldades.
*Editor-executivo-adjunto