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Uma sucessão de acontecimentos políticos colocou a Europa (na verdade, grande parte do planeta) numa encruzilhada. No Leste vemos a instabilidade a chegar com lideranças de tom pouco democrático e mesmo a Oeste, de onde nos habituamos a ver chegar o suporte de uma estrutura assente em direitos e garantias, começamos a observar um efeito corrosivo que mina tudo o que conhecemos: um estado estruturado, defensor dos direitos dos cidadãos e sujeito a um sistema de equilíbrios que, mesmo incapaz da perfeição, consegue, pelo menos, garantir um funcionamento que se vai corrigindo a si próprio.
Todo este processo assenta, de uma forma simplista, num equilíbrio entre instituições e os respetivos poderes. Uma espécie de jogo em que entram governos, parlamentos, presidentes e tribunais. Ninguém detém todo o poder e cada um exerce a sua parte de forma interligada. Sempre que alguém ultrapassa a sua esfera de intervenção e entra no domínio do outro poder, os mecanismos funcionam e o equilíbrio é reposto.
O que observamos com muita frequência é um ataque cada vez mais acirrado a este sistema de equilíbrios, minando a sua capacidade de regeneração e de auto-correção. Quando vemos partidos políticos a defenderem a retirada de poderes ou até a extinção de órgãos intervenientes nestes equilíbrios, devemos temer pelo futuro. E até o exemplo a que nos habituamos a ver chegar dos Estados Unidos (cuja Constituição é apontada como um dos exemplos deste sistema de estabilidade e equilíbrios) parece estar em perigo quando os tribunais são apontados como ameaças e não como garantias.