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Há um sentimento prevalecente hoje em dia: o que é que a sociedade pode fazer por mim e não tanto o que é que eu posso fazer pela sociedade. A frase feita reflete muito do sentimento das sociedades modernas e encaixa na perfeição na forma como se debate o serviço militar obrigatório (SMO) ou quaisquer outras soluções para resolver a falta de militares.
Durante séculos, mas em particular no século XX, instituições como o serviço militar foram vistas como um esforço individual em favor de um objetivo coletivo. Com o decurso do tempo, em particular na Europa Ocidental, no pós-guerra e depois de anos de paz e crescimento económico, os cidadãos habituaram-se a dar pouco de si em favor do conjunto e quando o fazem olham-no sempre de uma forma economicista. Prefere-se pagar a dar.
O SMO dificilmente voltará ao que já foi. Os tempos são outros e as soluções são obviamente diferentes, mas na discussão que voltou há uma ideia de fundo que contrasta cada vez mais com o passado: a recusa em contribuir para o coletivo.
A obrigatoriedade de contribuir para a defesa coletiva pode assumir novos modelos, mas um aspeto é essencial. Há um preço a pagar! E esse preço pode assumir várias formas. Não podemos é continuar a acreditar que vivemos num cantinho esquecido e pacífico da Europa e que isso não implica obrigações.
Qualquer que seja o caminho escolhido para resolver a falta de efetivos militares, Portugal não pode continuar a acreditar que a paz se conquista apenas com boa vontade ou tão simplesmente deixando de investir na Defesa.
Um dia acordamos com nuvens escuras sobre a cabeça e, nessa altura, será provavelmente tarde para encontrar abrigo porque sempre acreditamos que a tempestade está no outro extremo da Europa.