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Nas eleições autárquicas discute-se inevitavelmente concelho a concelho. É a lógica natural da democracia. Contudo, há problemas que extravasam fronteiras administrativas e exigem soluções concertadas numa escala metropolitana. A habitação é, talvez, o caso mais evidente.
O concelho do Porto, com apenas 41 km² e uma densidade populacional de 6006 habitantes por km², superior a cidades como Lisboa, Madrid e Berlim. Já os municípios vizinhos do chamado "Grande Porto" apresentam realidades muito distintas: Gaia (1820 hab./km²), Matosinhos (2766 hab./km²) e Maia (1692 hab./km²) têm margens significativas para crescer.
É curioso notar que a população do Porto aumentou entre 2017 e 2021, precisamente num período de forte subida dos preços da habitação. Em contraste, entre 1980 e 2001, a cidade perdeu cerca de 60 mil residentes, numa altura em que a literatura não identifica aumentos expressivos nos valores do mercado.
Pensar a habitação apenas no Porto cidade é, por isso, um erro estratégico. A resposta não deve ser adensar indiscriminadamente, mas sim planear o Grande Porto como um todo: redistribuir a oferta, construir em massa habitação acessível e reforçar as infraestruturas de transporte.
No imediato, é crucial aumentar equilibradamente a oferta de habitação a preços acessíveis, preservando a qualidade de vida e, paralelamente, fomentar apoios à procura orientados para grupos específicos como os jovens, evitando a inflação. A chave, no entanto, estará sempre numa política de habitação e de transportes pensada e coordenada à escala da Área Metropolitana. Só assim será possível reter os jovens e garantir qualidade de vida para quem escolhe viver e trabalhar no (grande) Porto.