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Parece estranho preocuparmo-nos com pequenas coisas, revelando até algum comodismo, quando o Mundo está abalado por guerras e ameaça mais instabilidade do que em muitos momentos da Guerra Fria. No entanto, são os percalços do dia a dia que mais nos complicam a vida, mesmo face ao risco de uma escalada nuclear no Irão, à morte de civis em Gaza ou ao crescente aumento dos orçamentos militares na Europa.
Uma dessas pequenas irritações do dia a dia é o estacionamento nas grandes cidades versus a impunidade permitida pelas autoridades policiais. Nesta mistura junta-se uma clara falta de aposta nos transportes públicos e uma pitada de mudança de hábitos e em vez de termos uma evolução positiva na circulação nas áreas urbanas temos um caos que se propaga sem oposição.
Muitas das medidas necessárias nas cidades – e não apenas nas de grande dimensão – são pouco populares e causadoras até de reações negativas de parte da população, mas é isso que distingue um bom decisor público: a capacidade de tomar medidas, mesmo que impopulares, antecipar problemas e ser capaz de esperar pelos resultados.
É quase unânime que não é possível uma aposta séria numa política de transportes públicos sem travar a circulação dos veículos privados nas zonas mais concorridas. O que temos assistido é a um retrocesso, apesar dos gastos crescentes em linhas de metro, autocarros e metrobus. E isto é válido tanto para o Porto como para outras cidades.
O primeiro passo será certamente por ordem no estacionamento irregular nas zonas mais movimentadas e, de uma vez por todas, não permitir que as polícias olhem para essas situações como marginais e continuem a passar por automóveis mal estacionados como se de nada se tratasse. Depois desse passo, pequeno mas relevante, podemos dar o salto seguinte e começar verdadeiramente a travar a entrada de automóveis nas cidades para termos transportes públicos de qualidade.