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A ação do Ministério Público e das polícias é, ou melhor, corre o risco de ser, uma das grandes ameaças à nossa democracia. A afirmação dura e, porventura, até excessiva, resulta do volume de casos que antecedeu o período de férias e que, mais do que um sinal de moralização da vida política e do funcionamento normal da Justiça, se parecem cada vez mais com autênticos tiros no pé por parte de quem devia ser o garante do normal funcionamento das instituições.
Na verdade, essas ações, sobretudo pela forma como são divulgadas publicamente, arriscam-se a ser verdadeiras machadadas na democracia.
Um dos últimos exemplos, o das buscas na casa de Rui Rio, é prejudicial para os partidos políticos mas deixa igualmente muito a desejar sobre a ação das instituições judiciais. O ex-líder do PSD disfarçou o seu mal-estar ajudando a transformar a ação da Justiça num circo mas a verdade é que quem quem devia manter a cabeça no lugar e saber transmitir de forma séria o que estava a ser feito não foi capaz de o fazer.
E este é apenas um de muitos casos frequentes em que se misturam verdadeiros processos de corrupção com ações ocas - porventura até encenadas - que nos deviam preocupar a todos enquanto sociedade.
O país está de férias mas bem que se pode abrir uma bolsa de apostas para saber qual será a “grande operação” com que a nossa Justiça nos vai brindar no regresso à atividade, algures lá pelo fim de setembro, início de outubro.
E, no meio de tudo isto, fica um vazio estranho deixado pelas organizações de combate à corrupção que ou foram criadas e tiveram vida curta ou nunca conseguiram assegurar uma ação efetiva.
O caminho ficou aberto para uma “justiça vingadora” cujo preço haveremos de pagar bem caro no futuro. A confusão legal gerada pelos partidos políticos e a Justiça a navegar à vista e sem rumo deixa os cidadãos cada vez mais descrentes nas instituições e sem saberem em quem podem, ou devem, acreditar.
*Editor-executivo-adjunto