A invasão russa da Ucrânia fez-nos regressar aos velhos dias do século passado vividos sob a ameaça de um inverno nuclear. Um passado que pensávamos distante e ultrapassado. Uma Guerra Fria que fomos deixando para trás e que acabamos por quase esquecer.
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Mesmo que, na verdade, o risco de conflito nunca tenho desaparecido ao longo destas décadas. Manteve-se a tensão permanente entre a Índia e o Paquistão, entre Israel e os seus vizinhos árabes ou as investidas do Irão e da Coreia do Norte. A ameaça esteve sempre presente, mesmo que relegada para uma dimensão regional, aparentemente sob controlo, mas não menos perigosa.
Mas eis que quando a Europa considerava a ameaça nuclear russa um perigo ultrapassado, o impasse regressou. Curiosamente, com os mesmos protagonistas. O risco de um conflito nuclear nunca chegou a diminuir para os níveis a que nós, habitantes de uma Europa demasiado ocupada a discutir taxas de crescimento económico ou quadros comunitários, pensávamos. A um tempo em que os habitantes da Europa ocidental planeavam abrigos nucleares enterrados no jardim sucedeu-se um sonho de união, alimentado pelo desenvolvimento económico e pelo bem-estar material pago pelas verbas distribuídas pela máquina burocrática de Bruxelas.
Chegou, agora, a hora de acordar do esquecimento para que o preço a pagar por esses anos de "cegueira" não seja demasiado alto. E esse preço, como sempre, é pago pelas populações e pelos soldados mortos. E se é "moral" ajudar o povo ucraniano a defender-se, admite o próprio Papa Francisco, já o envio de armamento é "imoral se a intenção é provocar mais guerra".
Num momento em que ninguém parece querer dar o primeiro passo para a paz, fazem falta mais discursos positivos e menos palavras de incentivo ao conflito. Sobretudo de quem tem obrigação de garantir o nosso futuro.