Sempre que surge um novo caso público envolvendo ordenados ou indemnizações de políticos, o debate, invariavelmente, resvala para a discussão sobre os valores pagos a quem exerce essas funções. Serão de facto ordenados excessivos?
Corpo do artigo
Olhando isoladamente para esses ordenados, num país em que o salário mínimo é de 705 euros mensais e em que um agente da Polícia recebe perto de mil euros, o debate corre o risco de ficar enviesado. Sim, há demasiados trabalhadores a receber menos do que deviam e também demasiados subterfúgios acessíveis apenas a alguns privilegiados para conseguir ultrapassar as limitações legais.
Mas que país queremos? Um em que os responsáveis públicos sejam competentes e eficientes, e consequentemente bem pagos, ou um em que os ordenados são tão fracos que só quem não tem outra opção aceita as funções?
Há poucos anos, orgulhosamente, a generalidade dos órgãos de comunicação portugueses regozijavam-se com o sucesso de Horta Osório à frente do Lloyds Bank e não deixavam de destacar os valores milionários do seu ordenado e prémios de desempenho. Para os portugueses, era um motivo de orgulho que um gestor de origem portuguesa atingisse um tal patamar.
Ainda antes, a ida de Paulo Macedo para um cargo público teve direito a regime de exceção, não totalmente isento de contestação. Afinal, se queríamos alguém reconhecidamente competente numa função pública, acabamos por ter de admitir que o ordenado pago pelo Estado não estava ao nível da remuneração do setor privado.
Mas esses são os casos excecionais que rapidamente esquecemos quando nos dedicamos a criticar os excessivos ordenados dos políticos. Por um lado, queremos gestores de qualidade mas, por outro, parecemos pouco disponíveis para lhes pagar aquilo que a maioria das empresas lhes paga.
Um velho ditado português sintetiza bem o problema: "tal dinheirinho, tal trabalhinho!".
*Editor-executivo adjunto