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Durante o período da covid-19 habituamo-nos a ouvir que vivíamos num intenso stresse e que haveríamos de enfrentar as respetivas consequências. Ou porque os idosos estiveram isolados durante demasiado tempo ou porque as crianças ficaram trancadas em casa privadas da interação com outras. Ou até porque fomos habituados a enfrentar uma reviravolta nos nossos hábitos de vida.
Agora, descobrimos que quase 40% dos universitários apresentam sintomas de depressão e que a acumulação de stresse tornou os nossos condutores reativos e sujeitos a explosões emocionais. Multiplicam-se, de facto, os estudos que mostram a degradação da saúde mental seja de grupos profissionais ou de escalões etários.
Pode até ser fácil ligar à pandemia esta alteração de comportamentos que enfrentamos nos dias de hoje. Mas há muito mais do que apenas consequências de dois anos de reviravolta nos nossos hábitos de vida. Há alterações relevantes nos comportamentos diários e na forma pouco ou nada tranquila como enfrentamos a diferença ou os choques do dia a dia.
Há, sobretudo, uma mudança fundamental: começamos a ser mais individualistas e menos atentos no contacto com os outros. Seja nos transportes, quando ninguém se levanta para dar lugar a uma pessoa idosa, seja nas lojas, quando toda a gente finge não ver alguém com o bebé ao colo no final da fila, ou na estrada, quando se pára em qualquer sítio sem respeitar quem vem atrás, mas também quando quem vem atrás não consegue esperar sem reclamar aos berros.
Algo está mal na forma como evoluímos em sociedade e a culpa não é seguramente da covid e nem sequer da escola que educa os nossos filhos. A verdade é que estamos a trilhar um caminho muito estranho e nada mostramos querer fazer para o corrigir.